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Nossas Histórias

ESSE BLOG É PARA CONTARMOS AS NOSSAS HISTÓRIAS, MOSTRAR A NOSSA LUTA E A NOSSA VITÓRIA...

sábado, 1 de novembro de 2014

Um pequeno descanso...

Queridos amigos: vou ficar em recesso por um tempo. Faz seis anos que fundei a comunidade e sinto que o meu rendimento caiu muito, devido aos problemas de saúde e pessoais. Preciso de forças para me renovar e é isso que estou buscando. Somente continuarei escrevendo no Blog "Diário de uma filha do silêncio / Bya Albuquerque". A quem visita o blog, sugiro a leitura de postagens mais antigas também. Sejam sempre muito bem vindos aqui e até a volta. Abraço carinhoso, Bya Albuquerque.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Reportagem da REVISTA CATEDRAL / Francielly Martins Zaluski

É INCRÍVEL COMO UMA REVISTA CATÓLICA PODE FAZER DIFERENÇA, SEM SER PARCIAL E SEM TABUS. E PRINCIPALMENTE SEM OMISSÃO SOCIAL. EU JÁ FUI CONVIDADA PARA VÁRIOS PROGRAMAS DE TV E VÁRIAS ENTREVISTAS, PORÉM CONCORDEI EM DAR SOMENTE UMA, PARA A REVISTA ISTO É, ATRAVÉS DA QUAL CONHECI PESSOAS INCRÍVEIS. FRANCIELLY ME PROCUROU PEDINDO PARA USAR ALGUNS DEPOIMENTOS DO SEGUNDO BLOG, ONDE TODOS OS DEPOIMENTOS QUE ME FORAM ENVIADOS ESTÃO SOB PSEUDÔNIMO. E PEDIU PARA QUE EU RESUMISSE A MINHA HISTÓRIA. ACABEI DEIXANDO ALGUNS FATOS DE FORA (ESQUECENDO), MAS O RESUMO FOI COLOCADO NA ÍNTEGRA. É BOM SABER QUE TEMOS VOZ...SEM SERMOS APELATIVOS...
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PEDOFILIA:
DIGA NÃO!
O perfil é do típico “gente boa”,
politicamente correto, inserido na
sociedade, com profissão e renda,
alguns casados e com filhos,
acima de qualquer suspeita. Eles
se aproximam sorrateiramente,
ganham a confiança da criança,
e em seguida arrancam sua
inocência e infância.

O PERIGO MORA AO LADO
Em março deste ano o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada - IPEA divulgou o estudo Estupro no Brasil.
A pesquisa estima que pelo menos 527 mil pessoas
são estupradas por ano no Brasil. Deste total, 70% são
crianças e adolescentes mas apenas 10% dos casos
chegam ao conhecimento da polícia.
A impunidade é ainda mais frequente quando o crime é
cometido por um membro da família ou pessoa próxima
à criança. Por medo e por vergonha o crime é silenciado
e o criminoso fica impune para continuar a prática com
aquela e outras crianças.
De modo geral, 70% dos estupros são cometidos por
parentes, amigos e conhecidos da vítima. Em se tratando
de crianças, este número sobre para 87,5% o que aumenta
ainda mais a impunidade já que segundo a ministra
Maria do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos
“As autoridades chegam a uma parcela pequena. A
violência é mantida sob um manto de segredo quando
se trata do abuso sexual intrafamiliar. É difícil romper
este segredo”.
Delair e Bya sabem bem como é guardar o aterrorizante
segredo. Elas não se conhecem, mas, carregam traumas
de infância muito parecidos. Foram abusadas e
aterrorizadas pelos seus próprios pais, guardaram por
anos as lembranças e dores das agressões. Quebraram
o silêncio ao contarem para os maridos, e apoiadas por
eles, resolveram ajudar outras vítimas e ex-vítimas.

DELAIR ZERMIANI
“Fui abusada desde bebê até os 14 anos pelo meu pai.
Ele usou várias estratégias, primeiro dizia que todos os
pais faziam isso com as filhas, mas que eu não podia
contar para ninguém porque caso contasse a magia
seria quebrada e eu não iria virar mulher. E eu, com toda
minha inocência aos 5 anos, acreditava.
Depois ele descobriu que eu tinha medo de anão então
ele dizia que anão é toda pessoa que tinha obedecidoao 
pai só até aquela altura e que não deixava mais o
pai fazer, então Deus ficava bravo e não deixava mais
a pessoa crescer. Quando deixei de acreditar nisso, meu
irmãozinho nasceu então ele ameaçava matá-lo.
Aos doze anos ele usava o revólver para me obrigar.
Com cinco anos eu já havia sofrido todos os atos de
uma relação sexual. Minha alegria foi poder frequentar
a escola, era meu refúgio, onde podia ser criança, ou
ao menos fingir ser. Durante anos vivi assombrada, em
constante estado de alerta, tentando me proteger do meu
próprio pai, procurava nunca ficar sozinha, pois eu sabia
que se ele me encontrasse sozinha me pegaria.
Eu me sentia imunda, tinha vergonha e medo. Até que
um dia fui juntamente com o grupo de jovem visitar uma
menina de 13 anos que havia tido um bebê, o filho era do
pai dela. Então aos 14 anos criei coragem para enfrentar
meu pai, pois eu preferia morrer a ter aquele destino”.
Delair conseguiu superar e perdoar o pai, ela compara
a violência que sofreu a uma cicatriz: A lembrança
da ferida está ali, mas não doi mais, ela afirma que a
grande dificuldade está em perdoar o agressor para
então diminuir a dor. Por isso criou uma ONG EVAS –
Ex-Vítimas de Abuso Sexual, que se encontram para
conversar em grupo a fim de superar os traumas. Ela
ministra palestras em escolas, igrejas, universidades (...),
sobre a pedofilia e alerta adolescentes e adultos sobre o
perigo.

BYA ALBUQUERQUE
“Meu pseudônimo é Bya Albuquerque e sou fundadora da
comunidade “Filhas do Silêncio”. Faz 5 anos que fundei
a comunidade. Hoje tenho 47. Fui abusada pelo meu pai.
O abuso começou antes dos 2 anos e se prolongou até os
26, um pouco antes do meu casamento. Vim de família de
posses. Meu pai foi um intelectual com amigos influentes
e também foi um pedófilo e psicopata. Minha mãe
desconfiava, mas ficou quieta. Considerou-me como rival
dela. Passei por todas as fases do abuso: molestamento,
pedofilia, estupro. Com direito a uma gravidez e um
aborto. Muitos perguntam: por que tanto tempo? Eu fui
altamente, cruelmente, e brutalmente chantageada pelo
me pai. Pior que abuso físico, foi a violência emocional
que sofri por parte da minha mãe e do meu pai. Fiz isso
para proteger minha única irmã, 12 anos mais nova. Hoje
em dia ela me despreza e acha que sou mentirosa e louca.
Minha mãe foi tão agressiva verbalmente comigo, que
deixei de viver a adolescência e juventude. Ela me fez
sentir-me um lixo. Após o casamento, meu pai sentiuse
perdedor e começou a praticar assedio moral comigo
e meu marido. Quando a família direta dele soube do
abuso, considerou-me um segredo sujo. Uma família com
dinheiro e formação intelectual.
As consequências físicas e emocionais que sofro até hoje,
e principalmente nesse tempo, são: Doença de Cushing,
vaginismo, transtorno alimentar, depressão, insônia,
fobia social, baixa autoestima, ataques de ansiedade
entre outras.
Sempre fui forte, me formei, casei, tenho dois filhos, mas
não sou feliz. Acho que alguém que passa pelo abuso
sexual e violência psicológica dificilmente alcançará a
paz.
Minha comunidade tem como objetivo maior ajudar
mulheres e homens mais velhos, que vivenciaram o abuso
numa época que isso e o sexo eram tabu, a serem mais
fortes e conseguirem desabafar. Sou sozinha, mas aos
poucos tenho conseguido ajudar e com isso, ajudar a mim
mesma. Não tenho ilusão que o abuso sexual vai acabar.
É como falar no fim de uso das drogas, violência urbana,
corrupção. Mas acredito plenamente na solidariedade”.
Bya tem três blogs, no Diário de uma filha do Silêncio,
fala sobre seu dia a dia e das dificuldades decorrentes dos
traumas sofridos. No Filhas do Silêncio ela posta notícias,
poesias e letras de músicas e no Filhas do silêncio 2,
dezenas de pessoas postam seus depoimentos, e usam
o espaço para desabafar.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Meu diário / Bya Albuquerque

Amigos, abri um diário pessoal (um blog) chamado Diário de uma filha de silêncio / Bya Albuquerque. Nele continuo a minha história, retratando o quanto é devastador o abuso sexual e suas consequências físicas e emocionais. Escrevo sobre mim...minha família...meus problemas...meus anseios e desejos...e o quanto o abuso acabou com a minha vida. A primeira postagem é do final do mês de março e é a mais antiga. Esse será o meu relato, meu grito, meu protesto e espero que as pessoas se conscientizem de quanto o abuso sexual é cruel. E é para vida toda...

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Depoimento da Samantha

"Bya, contei essa historia ha cinco anos atraz e falei que era de uma amiga. Só que foi comigo. Agora eu tenho coragem de assumir mas só que com nome falso. Pesso para tu escrever por sua facilidade. Saudades e um beijo para você e crianças."

Minha narração (Bya Albuquerque):

Conheci a Samantha em Porto Velho. Ela era de uma favela de São Paulo e engravidou do namorado aos 17 anos. Fugiu com ele para o Norte, com o sonho de ter uma vida melhor. Antes da filha nascer, o namorado a abandonou e foi para um garimpo, onde se "perdeu". Sam sempre foi muito bonita: cabelo castanho claro e olhos verdes. Atraía muita atenção, principalmente por ter um tipo de beleza diferente do nortista. Teve a filha sozinha, sem conhecer praticamente ninguém. Passou fome...trabalhou como faxineira. Quando a filha estava com 3 anos, conheceu um rico empresário e se casou com ele. Ele assumiu a paternidade da filha dela e logo tiveram um filho. O marido era extremamente machista, porém Samantha acreditava que valia a pena passar por certas humilhações, já que tinha uma bela casa, dois carros do ano, jóias. A única coisa que o marido não dava era dinheiro...ele era super controlador.
Quando a conheci tinha acabado de abrir a Comunidade e os Blogs. Sua filha estava com 10 anos e o filho com 6. Ela vivia triste e apavorada por causa do marido. O menino estava sempre com ela, porém jamais vi a filha. O marido mantinha a menina em casa. Eu o vi por duas vezes: homem com aparência arrogante. O menino aparentava ter algum problema mental.
Comecei a conversar com a Sam sobre a pedofilia e abuso sexual. Ela confessou que tinha muito medo que o marido estivesse abusando da filha, porém não tinha certeza. Para ter algum dinheiro em mãos, aos poucos começou vender suas jóias e voltou a fazer faxina na casa dos seus amigos.
Fiquei um bom tempo sem vê-la...fiquei sabendo que estava doente. Umas duas semanas antes de voltar definitivamente para São Paulo, encontrei-a na casa de uma amiga comum. Ela estava profundamente abatida e deprimida, dizendo que ia deixar os filhos e fugir para São Paulo. Não comentou nada sobre a doença. Uns dias depois encontrei-a novamente e ela contou-me uma história horripilante sobre uma amiga casada. O marido queria fazer sexo anal e essa amiga não deixou. Ele tentou compra-la com belas joias, mas ela foi firme, já que não gostava e tinha medo desse tipo de relacionamento. Então ele a estuprou. SIM...HÁ ESTUPROS DENTRO DOS CASAMENTOS!!! É lógico que essa amiga era a própria Samantha. Ela pegou os dois filhos e abrigou-se na casa de uma amiga. O marido a procurou, pediu desculpas, insistiu para ela voltar e deu uma camionete luxuosa de presente. Mesmo hesitando, ela voltou. Umas duas semanas depois ele a estuprou (via anal) novamente. Como ela tentou resistir, além de apanhar, o estupro foi tão brutal que ela passou 20 dias hospitalizada. Com medo do marido rico e influente e da sua família, ficou calada.
Hoje em dia, ela conseguiu o divórcio, pois o marido só concedeu porque ia se casar com outra. O marido ficou com o filho e ela e a filha voltaram para São Paulo.



sexta-feira, 18 de julho de 2014

Diga Não a Pedofilia No Brasil / Delair Zermiani

Olá!
Eu criei uma petição pública e gostaria muito de sua ajuda para coletar assinaturas. Ela se chama: SALVE CRIANÇAS VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL E EX-VÍTIMAS A SUPERAR ISSO! Destina-se ao Presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves.: Que o PL 4754/2012 seja votado e aprovado com máxima urgência, se possível, antes da Copa. Eu fui à Brasília duas vezes, uma para esse Projeto de Lei ser criado e outra para ser votado. Mas isso é moroso e ainda não há muito interesse nos parlamentares em enxergar esse problema social...
Eu realmente me preocupo sobre este assunto (assim como você) porque sou uma sobrevivente desse inferno (Youtube - Pedofilia e Incesto - Superação do Trauma). E juntos nós podemos fazer algo maior a respeito disso! Cada pessoa que assina nos ajuda a chegar mais próximo do objetivo de 100.000 assinaturas -- será que você pode me ajudar assinando a petição?
Essa é minha missão e a minha bandeira! Quando esse Projeto de Lei virar lei realmente terá valido à pena passar por tudo o que passei. Que tal tirar muitas crianças desse inferno e contribuir para a recuperação de tantos que também foram vítimas? Se não nos mobilizarmos corremos o risco de aceitar a pedofilia como opção sexual (como já ocorre em alguns países dos EUA, na Holanda e na França). Por favor, junte-se à nós?
Campanhas como esta sempre começam pequenas, mas elas crescem quando pessoas como nós se envolvem -- por favor reserve um segundo agora mesmo para nos ajudar assinando e passando esta petição adiante.
Posso contar com seu apoio divulgando para sua rede de contatos?
Muito obrigada!
Delair Borges Zerrmiani
Idealizadora e fundadora da ONG "EVAS - Ex-Vítimas de Abuso Sexual".

Salve crianças vítimas de abuso sexual e ajude ex-vítimas! PL 4754/2012 precisa virar LEI!

domingo, 15 de junho de 2014

SEM MEDO DE FALAR - RELATO DE UMA VÍTIMA DE PEDOFILIA / Marcelo Ribeiro

"O silêncio protege o pedófilo"
Casado, aos 48 anos, empresário conta que foi vítima de abuso sexual dos 12 aos 16 por um maestro do coral da Igreja Católica que depois virou padre
RESUMO Há seis anos, Marcelo Ribeiro, 48, revelou à mulher Renata Daud, 36, ter sido abusado sexualmente dos 9 aos 16 anos pelo maestro do coral da Igreja Católica primeiro em Minas e depois no Rio Grande do Sul. Uma crise na relação levou o empresário a relatar pela primeira vez um trauma que escondia há mais de três décadas e que agora conta também no recém-lançado livro "Sem Medo de Falar - Relato de uma Vítima de Pedofilia" (ed. Paralela, 195 págs., R$ 24,90).
Quando comecei a ser assediado aos nove anos pelo maestro do coral da Igreja Católica da minha cidade natal, em Minas, eu não tinha noção do que era sexo. O primeiro beijo que ele me deu foi uma coisa maravilhosa. Para mim, não era erótico. Criança é erógena. Sente, mas não sabe lidar com aquilo.
Já ele, o predador sexual, sabia o que estava fazendo. Fui abusado sexualmente dos 12 aos 16 anos.
O maestro era respeitado a ponto de ter confiança de meus pais para que eu fosse morar com ele no Sul, para onde o coral se transferiu.
A primeira vez que me lembro de ter feito sexo com ele foi quando ficamos sozinhos na casa paroquial. O maestro tirou minha roupa e eu aceitei. Já tinha me beijado escondido várias vezes.
Ele me acariciou, me tocou, me beijou, me fez praticar sexo oral e me penetrou. Repetidas vezes e a seu bel-prazer. Exigiu que eu o penetrasse.
Não havia meu desejo. Era obediência. Como era muito criança, parecia que aquilo não me incomodava tanto, porque tinha outras coisas bacanas, como cantar no coral, ser reconhecido.
Os abusos eram um fardinho que eu tinha de carregar. Só tive consciência de ser vítima de abuso muito depois. O maestro, que viraria padre, dizia que nossa história era de amor. Só aos 42 anos consegui falar sobre o assédio.
ABUSO HOMOSSEXUAL
É mais difícil falar sobre abuso homossexual. Nunca pensei se eu era ou não gay. Antes de ser molestado, tive uma paixão platônica por uma colega de escola. Quando decidi deixar o coral e voltar para casa, tinha 16 para 17 anos e nenhum traquejo com meninas. Optei pelas profissionais, quando estudava engenharia em Belo Horizonte.
Vivi uma adolescência tardia. Aos 26 anos, conheci minha mulher. Renata tinha 13. Falei para o amigo que nos apresentou: Como é que você me apresenta uma menina que não tem peitinho ainda?' Fiz essa grosseria, mas namoramos por dois anos.
Eu era desregulado. Agia com brutalidade. Meus familiares foram os que mais sofreram com o ódio que tinha guardado. Só contei aos meus pais quando o livro ia sair.
LAVAGEM CEREBRAL
O maestro foi nos afastando de família, amigos, futebol. Era uma lavagem cerebral. Comecei a me rebelar quando passei férias em casa e voltei usando jeans. Tínhamos que usar calça social e camisa com o último botão fechado.
Minha mulher diz que há força em falar o indizível. Reencontrei Renata adulta e nos apaixonamos de novo. Mas, há seis anos, ela pediu para eu ir embora. O medo de perdê-la me fez falar pela primeira vez sobre o abuso. Ela foi amorosa e sábia.
O silêncio protege o pedófilo. Falar desnuda ele. A força da denúncia é reverberar.
É um modo também de incentivar pais e educadores a falar sobre o tema. Esse é um crime muito comum. O pedófilo está próximo. A gente vai ter que falar para as crianças o que é pedofilia, até para elas estarem mais protegidas.
Meu caso está prescrito há muito anos. O pedófilo não pode ser punido a contar uma década a partir dos 18 anos da vítima. Defendo que não exista prescrição para esse tipo de crime. Ninguém sabe quando vai se curar do trauma e conseguir falar.
O maestro dirige hoje uma instituição no Sul. Mudou de ordem. Não é mais católico. Mas fiz a denúncia à CNBB [Conferência Nacional dos Bispos do Brasil] por ter sido vítima de abuso dentro da Igreja, numa casa paroquial.
Esperava que a entidade tomasse ao menos meu depoimento formal. Ninguém me procurou. Cheguei a falar diretamente com o presidente da CNBB na época, dom Geraldo. Ele disse que eu não precisava me preocupar mais.
Três décadas depois, tomei coragem e liguei para o maestro, que segue cercado de crianças e jovens. Perguntei: "Por que não se afasta das crianças, já que tem essa doença?". Ele não disse nada. Antes de desligar, pedi: "Para de fazer o mal".
Não revelo o nome dele no livro. É uma forma de não discutir só o meu caso, mas de falar de um problema social.
Espero que o livro ajude a sociedade a combater a pedofilia. Eu fui escolhido para ser uma vítima. E tenho certeza de que também fui escolhido para contar a história.
Reportagem de Eliane Trindade na Folha de São Paulo de 15/06/2014
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/171203-quoto-silencio-protege-o-pedofiloquot.shtml


sexta-feira, 13 de junho de 2014

OUÇA O QUE DIZEM MULHERES QUE SOFRERAM VIOLÊNCIA SEXUAL NA INFÂNCIA / Ana Carolina Moreno, Diana Vasconcelos e Luna Markman Do G1, em São Paulo, Fortaleza e Recife

Hoje adultas, elas afirmam que trauma da exploração dura para sempre.

Não há números exatos sobre quantas crianças e adolescentes são vítimas de exploração sexual no Bras
il. Segundo estimativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT), 100 mil menores de idade, principalmente meninas, são exploradas em mais de 900 municípios do país, quase metade deles no Nordeste. Embora o problema seja de difícil detecção, quem já o sofreu na pele garante: o trauma é real, profundo, e dura para sempre.

O G1 ouviu o relato de mulheres de Fortaleza e Recife que, em determinados momentos de sua infância, adolescência e até na idade adulta, sofreram algum tipo de violência sexual. As histórias têm começos distintos, mas o fim é parecido: ele ainda não chegou, mas segue carregado de medo, choro e vergonha. A maioria até hoje mantém esse passado escondido das próprias famílias.

Por isso, os nomes marcados com asteriscos foram trocados para preservar as identidades dessas mulheres.

Violência durante a vida inteira

Dos 32 anos de Maria do Socorro*, 13 foram de agressão familiar; 12 de exploração sexual, prostituição e uso de drogas, e sete de uma nova vida na reabilitação. "Eu nunca amei", diz ela ao lembrar dos anos em que se prostituiu. Ela conta ter tido seis filhos. Cinco deles foram frutos de abuso e prostituição. "Eles não sabem. Não sabem quem são os pais deles. Nunca contei. Tenho medo de que não entendam, de que me odeiem", diz a mulher que, atualmente, trabalha como zeladora com um novo companheiro, no Ceará. "Estou aprendendo agora [a amar]", diz ela.

Adotada aos três anos, ela conta que fugiu de casa aos 13, depois de cansar de apanhar da mãe adotiva. Nas ruas, ela conheceu uma menina e acabou morando na casa da mãe dela, a cafetina que a levou pela primeira vez pelo caminho da prostituição infantil. "O pior dia foi o primeiro, eu nunca tinha feito aquilo. Foi no dia que cheguei. Eu chorava tanto, eu não queria, ela me obrigou", afirma ela, acrescentando que "foi estupro".

Os clientes eram arranjados pela cafetina e os abusos sexuais ocorriam em matagais na Região Metropolitana de Fortaleza. As adolescentes ficavam com uma parcela pequena do dinheiro pago pelos abusos, apenas o suficiente para comprarem drogas. A maior parte do dinheiro ficava com a proprietária da casa.
"Até que eu engravidei e ela me expulsou. Eu tinha 15 anos."

Ela foi morar em um quarto de taipa, nas ruas, onde mantinha relação sexuais em troca de drogas, mesmo grávida. "Eu vivia suja. Eles [os 'clientes'] não ligavam", conta. "Eu dei meu filho quando ele tinha um mês e 20 dias. Procurei minha mãe e dei pra ela. Eu não queria essa responsabilidade. Até hoje ela cuida dele", afirma Maria do Socorro que, dois meses após o nascimento do primeiro filho, engravidou novamente do mesmo "cliente".

A segunda gravidez trouxe um relacionamento fixo, uma nova rotina e novos vícios. "Eu parei de me prostituir e fui pedir esmolas e comecei a usar crack", diz. Maria do Socorro criou a filha nestas circunstâncias até os cinco anos. "Mas eu perdi a guarda dela porque me denunciaram." Aos 20 e poucos anos e viciada em drogas mais pesadas, ela largou o companheiro, que a espancava, e foi em busca de clientes com mais dinheiro e mais exigentes. Ela passou a se prostituir na Avenida Beira Mar, um dos principais pontos turísticos de Fortaleza. "Aqui [no bairro em que vive] meus clientes eram velhos e tudo acabava rápido, né? Pagava pouco. Lá [na Beira Mar] não, eles queriam curtir a droga com a gente. Mas também demorava mais, era a noite toda. Quando começava, eu queria era que acabasse logo", conta.

Na Beira Mar, ela se envolveu com um estrangeiro e, como muitas garotas, acreditou que o príncipe dos sonhos lhe daria uma vida melhor. O homem, porém, desapareceu e, depois de um tempo, ela descobriu que estava grávida novamente. "Pra mim foi o fundo do poço. Você grávida de uma pessoa que você nem sabe quem é. Eu nunca engravidei na rua. Era uma vergonha", disse ela, que não sabe o nome ou o país de origem do pai de sua filha.

Após tentativas frustradas de provocar um aborto, ela foi convencida a não dar sua filha para a adoção, e foi levada a um tratamento de desintoxicação na Sociedade da Redenção. A estrada para a recuperação foi árdua, e ela chegou a repetir o ciclo e bater na filha recém-nascida. "Eu entrei em depressão e tinha tanta vergonha. Eu era que nem a minha mãe e eu me sentia triste com isso."

Há um ano e meio, Maria do Socorro encontrou um novo companheiro com quem teve mais um filho, desta vez, planejado e com acompanhamento médico. Os quatro vivem em uma pequena casa afastados do local onde as lembranças eram mais fortes. "Muita coisa ficou, eu não deixo minha filha na rua pra brincar, tenho medo."

Maria do Socorro ainda pretende se reaproximar dos filhos que vivem com sua mãe adotiva. Enquanto isso, ela ainda tenta se entender com o próprio passado. "Minha filha que vive comigo vive perguntando quem é o pai dela. Eu tenho vergonha, eu minto, cheguei a dizer que ele morreu."

Dois dias presa em um ponto de prostituição

Com Joana*, de Pernambuco, a história não começou na violência. Criada pela tia, ela diz não ter tido problemas em casa. Seu problema existia nas ruas e se aproveitava de meninas imaturas que gostavam de brincar desacompanhadas. "Eu gostava de sair, de conhecer o mundo, né", afirmou ela. Na noite de Ano Novo de 2008, com 17 anos recém-completos, a adolescente acompanhou uma conhecida do bairro a outro local. A menina lhe disse que precisava buscar uma troca de roupa para aproveitar o Réveillon. Chegando lá, porém, Joana disse que se deparou com um espaço aberto lotado de homens, e mulheres que faziam programa

"Eu não sabia dos perigos que a rua causava. Achavam que eu estava fazendo programa. Perguntavam se eu queria ficar com eles. 'Você quer ficar comigo? Eu lhe ajudo a voltar pra casa'", reconta ela. Sem crédito no celular, só depois de dois dias Joana conseguiu convencer um dos homens da região a levá-la de volta ao seu bairro. Antes disso, porém, ela diz ter sido obrigada a ficar com quatro homens contra a sua vontade, após sofrer ameaças de agressão e propostas de programas pagos em trocados ou comida. Um dos homens a ameaçou com uma arma e tentou impedir que ela tentasse ligar para a mãe.

Além de notar a presença de outras adolescentes no local, ela diz ter conhecido um estrangeiro por lá. O homem, que segundo ela era alemão, lhe disse que havia escutado várias vezes relatos de outras jovens como ela.

Na volta para casa, com vergonha de enfrentar a mãe, Joana se escondeu na casa de amigas e precisou ser acalmada pelos vizinhos. "Eu era muito aventureira, por isso não avisei minha mãe aonde eu ia. Ela esperou por mim três dias chorando", relembra ela.

Nas ruas de Recife, Joana diz que abordagens de adolescentes por homens adultos são comuns, independente de haver oferecimento por parte delas. Ela afirma que, também com 17 anos, foi parada na rua por homem que lhe ofereceu trabalho. Depois de anotar os dados pessoais dela, ele a conduziu a um suposto escritório, onde tentou fazer com que ela posasse nua para fotos. Ao perceber a armadilha, Joana se recusou e conseguiu fugir, ouvindo do homem que ninguém acreditaria em sua história, se ela a contasse.

"Existem muitas pessoas que não têm nenhum instinto de ser humano. Que esquecem o que é família, o que é vida, o que é criança, o que é uma pessoa perdida", afirma ela. Segundo Joana, esse tipo de pessoa pode se aproveitar de adolescentes imaturas como ela foi um dia. "Principalmente na Copa."

Copa aumenta fatores de vulnerabilidade

Anna Flora Werneck, gerente de Programas da Childhood Brasil, afirma que não é a Copa do Mundo que traz riscos de exploração sexual infantil, "mas alguns fatores da Copa aumentam a vulnerabilidade para que isso ocorra". Ela cita a grande movimentação de pessoas, a antecipação das férias escolares –que dá mais um motivo para os menores de idade ficarem ociosos–, a oferta de bebida alcoólica e o trabalho informal. Além da Copa, esses fatores também aparecem em outros eventos, como o Carnaval, as paradas LGBT e corridas de Fórmula 1. Por isso, segundo ela, o problema não deve ser esquecido a partir de 12 de julho.

Segundo ela, a exploração sexual infantil é móvel. "De certa forma ela é visível, mas é invisível. Você descobre o ponto, divulga, e as redes criminosas rapidamente vão para outro lugar." Apesar disso, diz a especialista, os espaços onde esse tipo de rede pode atuar sempre têm semelhanças, principalmente fatores de vulnerabilidade. Entre eles estão problemas familiares, incluindo maus tratos, e regiões com baixo índice de desenvolvimento humano, como as favelas e comunidades mais pobres.

São fatores como esse que levam as crianças e adolescentes às ruas, e lá as redes de tráfico de drogas e de prostituição não demoram a encontrá-las.

De acordo com a Childhood Brasil, os efeitos da violência são duradouros. Em pesquisa feita em 2009 com 69 adolescentes resgatadas de situações de exploração sexual, 60,9% delas afirmaram que já pensaram no suicídio. Dessas, 58,1% já tentaram tirar a própria vida. O número é dez vezes mais alto que a média brasileira.

"Quando violência sexual acontece, normalmente outros direitos já foram violados. Para garantir o direito, tem que garantir que a criança não esteja na rua, não está vendendo drogas, não está em situação de trabalho infantil, não está fora da escola, não se sente diminuída, insegura, não está brincando no esgoto."

'Escuridão' é para sempre

A escritora, historiadora e funcionária pública Maura de Oliveira Lobo já nasceu sem direitos. Era a década de 1970, bem antes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e suas primeiras lembranças são de quando ela tinha 4 anos de idade e vivia nas ruas do Rio de Janeiro com a mulher que lhe deu o sobrenome Oliveira. "Não sei dizer onde eu nasci, porque eu não tenho referência dos meus pais. Foi uma mulher da rua que me registrou. Era uma mulher sem paradeiro", reconta Maura, que adotou o sobrenome Lobo após casar pela segunda vez, anos depois de conseguir se emancipar e escapar de uma década de violência emocional, física e sexual.

O problema de Maura não foi a prostituição infantil, mas a pedofilia na residência de uma família que a acolheu aos sete anos com o intuito de fazê-la responsável pelo trabalho doméstico. Após sofrer três anos de violência sexual do pai da família, ela passou outros sete nas mãos do genro dele, que a tratava da mesma forma. Maura só conseguiu sair da tutela da família aos 16 anos, idade em que, naquela época, a pessoa ganhava o direito de ser ouvida pela Justiça.

Hoje, Maura tem a própria família e mantém uma ONG que atende crianças em situação de exploração sexual infantil. "É uma ruptura, é uma maldade tão grande que é para sempre. Para sempre vai se viver numa escuridão dessa lembrança ruim. Eu posso lhe garantir que não tem volta." Ela afirma que é feliz, mas só conseguiu superar o que chama de "escuridão" depois de começar a trabalhar para ajudar a resgatar outras crianças que passam pelo mesmo que ela passou. "É triste ver que a mesma história ainda acontece. Ainda existe muita exploração, muita violência infantil. É como se a gente olhasse para trás e visse o mesmo filme todos os dias", diz Maura.

Apesar de a grande maioria dos casos de pedofilia envolverem familiares, os riscos de casos de exploração sexual infantil durante a Copa do Mundo no Brasil preocupam a escritora. "Não existe uma criança se tornar uma mulher. Não existe. Uma criança é uma criança tanto no seu corpo quanto na sua alma", afirma ela.

"Gostaria que os turistas olhassem para o futebol, olhasse para as belezas naturais, mas nunca que olhassem para essas crianças desejando-as. Que possam olhar para aquela criança e pensar em si próprio. Só quando a pessoa consegue se colocar no lugar do outro ela consegue pensar na dor alheia. Não é possível que três minutos de prazer seja suficiente para destruir o futuro de uma vida."


Foto: OUÇA O QUE DIZEM MULHERES QUE SOFRERAM VIOLÊNCIA SEXUAL NA INFÂNCIA

Hoje adultas, elas afirmam que trauma da exploração dura para sempre.

Não há números exatos sobre quantas crianças e adolescentes são vítimas de exploração sexual no Brasil. Segundo estimativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT), 100 mil menores de idade, principalmente meninas, são exploradas em mais de 900 municípios do país, quase metade deles no Nordeste. Embora o problema seja de difícil detecção, quem já o sofreu na pele garante: o trauma é real, profundo, e dura para sempre.

O G1 ouviu o relato de mulheres de Fortaleza e Recife que, em determinados momentos de sua infância, adolescência e até na idade adulta, sofreram algum tipo de violência sexual. As histórias têm começos distintos, mas o fim é parecido: ele ainda não chegou, mas segue carregado de medo, choro e vergonha. A maioria até hoje mantém esse passado escondido das próprias famílias.

Por isso, os nomes marcados com asteriscos foram trocados para preservar as identidades dessas mulheres.

Violência durante a vida inteira 

Dos 32 anos de Maria do Socorro*, 13 foram de agressão familiar; 12 de exploração sexual, prostituição e uso de drogas, e sete de uma nova vida na reabilitação. "Eu nunca amei", diz ela ao lembrar dos anos em que se prostituiu. Ela conta ter tido seis filhos. Cinco deles foram frutos de abuso e prostituição. "Eles não sabem. Não sabem quem são os pais deles. Nunca contei. Tenho medo de que não entendam, de que me odeiem", diz a mulher que, atualmente, trabalha como zeladora com um novo companheiro, no Ceará. "Estou aprendendo agora [a amar]", diz ela.

Adotada aos três anos, ela conta que fugiu de casa aos 13, depois de cansar de apanhar da mãe adotiva. Nas ruas, ela conheceu uma menina e acabou morando na casa da mãe dela, a cafetina que a levou pela primeira vez pelo caminho da prostituição infantil. "O pior dia foi o primeiro, eu nunca tinha feito aquilo. Foi no dia que cheguei. Eu chorava tanto, eu não queria, ela me obrigou", afirma ela, acrescentando que "foi estupro".

Os clientes eram arranjados pela cafetina e os abusos sexuais ocorriam em matagais na Região Metropolitana de Fortaleza. As adolescentes ficavam com uma parcela pequena do dinheiro pago pelos abusos, apenas o suficiente para comprarem drogas. A maior parte do dinheiro ficava com a proprietária da casa.
"Até que eu engravidei e ela me expulsou. Eu tinha 15 anos."

Ela foi morar em um quarto de taipa, nas ruas, onde mantinha relação sexuais em troca de drogas, mesmo grávida. "Eu vivia suja. Eles [os 'clientes'] não ligavam", conta. "Eu dei meu filho quando ele tinha um mês e 20 dias. Procurei minha mãe e dei pra ela. Eu não queria essa responsabilidade. Até hoje ela cuida dele", afirma Maria do Socorro que, dois meses após o nascimento do primeiro filho, engravidou novamente do mesmo "cliente".

A segunda gravidez trouxe um relacionamento fixo, uma nova rotina e novos vícios. "Eu parei de me prostituir e fui pedir esmolas e comecei a usar crack", diz. Maria do Socorro criou a filha nestas circunstâncias até os cinco anos. "Mas eu perdi a guarda dela porque me denunciaram." Aos 20 e poucos anos e viciada em drogas mais pesadas, ela largou o companheiro, que a espancava, e foi em busca de clientes com mais dinheiro e mais exigentes. Ela passou a se prostituir na Avenida Beira Mar, um dos principais pontos turísticos de Fortaleza. "Aqui [no bairro em que vive] meus clientes eram velhos e tudo acabava rápido, né? Pagava pouco. Lá [na Beira Mar] não, eles queriam curtir a droga com a gente. Mas também demorava mais, era a noite toda. Quando começava, eu queria era que acabasse logo", conta.

Na Beira Mar, ela se envolveu com um estrangeiro e, como muitas garotas, acreditou que o príncipe dos sonhos lhe daria uma vida melhor. O homem, porém, desapareceu e, depois de um tempo, ela descobriu que estava grávida novamente. "Pra mim foi o fundo do poço. Você grávida de uma pessoa que você nem sabe quem é. Eu nunca engravidei na rua. Era uma vergonha", disse ela, que não sabe o nome ou o país de origem do pai de sua filha.

Após tentativas frustradas de provocar um aborto, ela foi convencida a não dar sua filha para a adoção, e foi levada a um tratamento de desintoxicação na Sociedade da Redenção. A estrada para a recuperação foi árdua, e ela chegou a repetir o ciclo e bater na filha recém-nascida. "Eu entrei em depressão e tinha tanta vergonha. Eu era que nem a minha mãe e eu me sentia triste com isso."

Há um ano e meio, Maria do Socorro encontrou um novo companheiro com quem teve mais um filho, desta vez, planejado e com acompanhamento médico. Os quatro vivem em uma pequena casa afastados do local onde as lembranças eram mais fortes. "Muita coisa ficou, eu não deixo minha filha na rua pra brincar, tenho medo."

Maria do Socorro ainda pretende se reaproximar dos filhos que vivem com sua mãe adotiva. Enquanto isso, ela ainda tenta se entender com o próprio passado. "Minha filha que vive comigo vive perguntando quem é o pai dela. Eu tenho vergonha, eu minto, cheguei a dizer que ele morreu."

Dois dias presa em um ponto de prostituição

Com Joana*, de Pernambuco, a história não começou na violência. Criada pela tia, ela diz não ter tido problemas em casa. Seu problema existia nas ruas e se aproveitava de meninas imaturas que gostavam de brincar desacompanhadas. "Eu gostava de sair, de conhecer o mundo, né", afirmou ela. Na noite de Ano Novo de 2008, com 17 anos recém-completos, a adolescente acompanhou uma conhecida do bairro a outro local. A menina lhe disse que precisava buscar uma troca de roupa para aproveitar o Réveillon. Chegando lá, porém, Joana disse que se deparou com um espaço aberto lotado de homens, e mulheres que faziam programa

"Eu não sabia dos perigos que a rua causava. Achavam que eu estava fazendo programa. Perguntavam se eu queria ficar com eles. 'Você quer ficar comigo? Eu lhe ajudo a voltar pra casa'", reconta ela. Sem crédito no celular, só depois de dois dias Joana conseguiu convencer um dos homens da região a levá-la de volta ao seu bairro. Antes disso, porém, ela diz ter sido obrigada a ficar com quatro homens contra a sua vontade, após sofrer ameaças de agressão e propostas de programas pagos em trocados ou comida. Um dos homens a ameaçou com uma arma e tentou impedir que ela tentasse ligar para a mãe.

Além de notar a presença de outras adolescentes no local, ela diz ter conhecido um estrangeiro por lá. O homem, que segundo ela era alemão, lhe disse que havia escutado várias vezes relatos de outras jovens como ela.

Na volta para casa, com vergonha de enfrentar a mãe, Joana se escondeu na casa de amigas e precisou ser acalmada pelos vizinhos. "Eu era muito aventureira, por isso não avisei minha mãe aonde eu ia. Ela esperou por mim três dias chorando", relembra ela.

Nas ruas de Recife, Joana diz que abordagens de adolescentes por homens adultos são comuns, independente de haver oferecimento por parte delas. Ela afirma que, também com 17 anos, foi parada na rua por homem que lhe ofereceu trabalho. Depois de anotar os dados pessoais dela, ele a conduziu a um suposto escritório, onde tentou fazer com que ela posasse nua para fotos. Ao perceber a armadilha, Joana se recusou e conseguiu fugir, ouvindo do homem que ninguém acreditaria em sua história, se ela a contasse.

"Existem muitas pessoas que não têm nenhum instinto de ser humano. Que esquecem o que é família, o que é vida, o que é criança, o que é uma pessoa perdida", afirma ela. Segundo Joana, esse tipo de pessoa pode se aproveitar de adolescentes imaturas como ela foi um dia. "Principalmente na Copa."

Copa aumenta fatores de vulnerabilidade

Anna Flora Werneck, gerente de Programas da Childhood Brasil, afirma que não é a Copa do Mundo que traz riscos de exploração sexual infantil, "mas alguns fatores da Copa aumentam a vulnerabilidade para que isso ocorra". Ela cita a grande movimentação de pessoas, a antecipação das férias escolares –que dá mais um motivo para os menores de idade ficarem ociosos–, a oferta de bebida alcoólica e o trabalho informal. Além da Copa, esses fatores também aparecem em outros eventos, como o Carnaval, as paradas LGBT e corridas de Fórmula 1. Por isso, segundo ela, o problema não deve ser esquecido a partir de 12 de julho.

Segundo ela, a exploração sexual infantil é móvel. "De certa forma ela é visível, mas é invisível. Você descobre o ponto, divulga, e as redes criminosas rapidamente vão para outro lugar." Apesar disso, diz a especialista, os espaços onde esse tipo de rede pode atuar sempre têm semelhanças, principalmente fatores de vulnerabilidade. Entre eles estão problemas familiares, incluindo maus tratos, e regiões com baixo índice de desenvolvimento humano, como as favelas e comunidades mais pobres.

São fatores como esse que levam as crianças e adolescentes às ruas, e lá as redes de tráfico de drogas e de prostituição não demoram a encontrá-las.

De acordo com a Childhood Brasil, os efeitos da violência são duradouros. Em pesquisa feita em 2009 com 69 adolescentes resgatadas de situações de exploração sexual, 60,9% delas afirmaram que já pensaram no suicídio. Dessas, 58,1% já tentaram tirar a própria vida. O número é dez vezes mais alto que a média brasileira.

"Quando violência sexual acontece, normalmente outros direitos já foram violados. Para garantir o direito, tem que garantir que a criança não esteja na rua, não está vendendo drogas, não está em situação de trabalho infantil, não está fora da escola, não se sente diminuída, insegura, não está brincando no esgoto."

'Escuridão' é para sempre

A escritora, historiadora e funcionária pública Maura de Oliveira Lobo já nasceu sem direitos. Era a década de 1970, bem antes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e suas primeiras lembranças são de quando ela tinha 4 anos de idade e vivia nas ruas do Rio de Janeiro com a mulher que lhe deu o sobrenome Oliveira. "Não sei dizer onde eu nasci, porque eu não tenho referência dos meus pais. Foi uma mulher da rua que me registrou. Era uma mulher sem paradeiro", reconta Maura, que adotou o sobrenome Lobo após casar pela segunda vez, anos depois de conseguir se emancipar e escapar de uma década de violência emocional, física e sexual.

O problema de Maura não foi a prostituição infantil, mas a pedofilia na residência de uma família que a acolheu aos sete anos com o intuito de fazê-la responsável pelo trabalho doméstico. Após sofrer três anos de violência sexual do pai da família, ela passou outros sete nas mãos do genro dele, que a tratava da mesma forma. Maura só conseguiu sair da tutela da família aos 16 anos, idade em que, naquela época, a pessoa ganhava o direito de ser ouvida pela Justiça.

Hoje, Maura tem a própria família e mantém uma ONG que atende crianças em situação de exploração sexual infantil. "É uma ruptura, é uma maldade tão grande que é para sempre. Para sempre vai se viver numa escuridão dessa lembrança ruim. Eu posso lhe garantir que não tem volta." Ela afirma que é feliz, mas só conseguiu superar o que chama de "escuridão" depois de começar a trabalhar para ajudar a resgatar outras crianças que passam pelo mesmo que ela passou. "É triste ver que a mesma história ainda acontece. Ainda existe muita exploração, muita violência infantil. É como se a gente olhasse para trás e visse o mesmo filme todos os dias", diz Maura.

Apesar de a grande maioria dos casos de pedofilia envolverem familiares, os riscos de casos de exploração sexual infantil durante a Copa do Mundo no Brasil preocupam a escritora. "Não existe uma criança se tornar uma mulher. Não existe. Uma criança é uma criança tanto no seu corpo quanto na sua alma", afirma ela.

"Gostaria que os turistas olhassem para o futebol, olhasse para as belezas naturais, mas nunca que olhassem para essas crianças desejando-as. Que possam olhar para aquela criança e pensar em si próprio. Só quando a pessoa consegue se colocar no lugar do outro ela consegue pensar na dor alheia. Não é possível que três minutos de prazer seja suficiente para destruir o futuro de uma vida."

Ana Carolina Moreno, Diana Vasconcelos e Luna Markman

Do G1, em São Paulo, Fortaleza e Recife

http://brasil-sempedofilia.blogspot.com.br/2014/06/ouca-o-que-dizem-mulheres-que-sofreram.html

terça-feira, 3 de junho de 2014

RETIRADO DOS COMENTÁRIOS...

Ola amigos, sempre tive um desejo enorme de conversa com pessoas que me entendem, que passaram pela mesma situação, e sentem oque eu sinto.. Bom o meu primeiro abuso aconteceu quando eu tinha apenas 6 a 7 anos, não me recordo mt bem.. Foi pelo esposo da minha baba.. antes de ele tentar fazer isso, ele era uma pessoa totalmente carinhosa, e pelo fato de nunca ter tido amor paternal, era mt apegada a ele pelo "carinho" que ele me dava.. Ate o dia que os molestamentos começaram, e eu no começo sem entender mt achava que era normal, quando um dia minha baba saiu para buscar meu irmão na escola e pediu que ele ficasse cmg enquanto ela ia la.. E nesse dia, ele falo no meu ouvido "te amo filinha, sou seu paizinho, e oque irei fazer eh por amor ta?" Eu concordei sem saber oq ele iria fazer... E foi ai que ele abaixo meu short tirou a minha calcinha, e abusou de mim.. e pediu que eu ficasse em silencio se não mataria minha mãe... bom ele praticou o abuso por mais ou menos 2 anos.. ate o dia que mudei de estado .. hoje tenho 16 anos, me corto quando lembro e já tentei me matar inúmeras vezes.. 
E oque mais me dói eh que sou da igreja assembleia de Deus, e nunca consegui desabafar cm ngm, tentei uma vez cm o filho do meu pastor que hoje eh meu namorado, mas infelizmente ele não reve palavras e nem atitudes que me consolasse . . Sou filha do Deus vivo e creio na superação deve terrível passado.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Empresário relata em livro os abusos sexuais sofridos durante a infância / Autor: Vilmara Fernandes | vfernandes@redegazeta.com.br

"Perdi a vergonha e o medo de falar. O silêncio é o melhor amigo da pedofilia", afirma Marcelo Ribeiro.


Foi preciso quase três décadas para que o empresário paulista Marcelo Ribeiro tomasse coragem para falar sobre o abuso que sofreu na infância. O professor e maestro de um coral católico - o homem que mais admirava - o agrediu dos 12 aos 16 anos. Um trauma que ele escondeu de todos e de si mesmo até os 42 anos. Foi o medo de perder a mulher que amava, e que se afastava diante das atitudes que ela não entendia, que o motivou a romper o silêncio. “Minha forma de agir era resultado das sequelas do que tinha vivido”, relata. Falar o ajudou a compreender o passado e hoje o estimula a lutar contra o mal que ainda ameaça tantas crianças. “Perdi a vergonha e o medo de falar. O silêncio é o melhor amigo da pedofilia”, assinala Ribeiro, autor do Livro “Sem medo de falar”. 

O que o motivou a tornar público o drama de ter sofrido abuso na infância?
Foi somente aos 42 anos que consegui falar que tinha sofrido abuso sexual na infância. Quando percebi que as sequelas que carregava afetavam a relação com minha mulher e isto ocorreu num momento em que estamos tentando nos reconciliar. Ela não conseguia me compreender ou as minhas atitudes, que não condiziam com a minha personalidade. Atitudes que, certamente, eram sequelas de tudo o que tinha vivido. Não queria perdê-la e isto me estimulou a falar, pela primeira vez, sobre o que tinha vivido: fui abusado na infância. A partir deste momento e até escrever o livro, houve um processo de compreensão real do que tinha acontecido.

Você passou 26 anos sem falar sobre o que tinha acontecido?
Joguei no esquecimento e jamais falei sobre o assunto. Foi a proteção que busquei porque tinha muita vergonha de tudo o que aconteceu. Era muito pesado. Até os 42 anos não tinha refletido sobre o assunto, não sabia nem que tinha sido vítima de um pedófilo. Mas a partir do momento em que falei, houve um processo de compreensão, me tornei mais consciente. Houve momentos de raiva, mas com ajuda da minha esposa, pude organizar as lembranças, compreender e entender que tinha sido vítima de abuso sexual, que tinha sido vítima de um pedófilo.

Como seus pais e irmãos reagiram? 
Foi difícil para os meus pais, que estão na faixa dos 80 anos. A primeira reação é de raiva, mas num segundo momento tentaram entender o que aconteceu. Há também um sentimento de culpa. E para minha mãe foi ainda mais difícil porque o que me aconteceu foi sob o manto da Igreja Católica e ela sempre fui muito fiel, uma beata... Meus irmãos sentiram demais. Uma de minhas irmãs, inclusive, vestiu a roupa do combate a pedofilia. Quando tudo veio à tona eles também compreenderam certas atitudes minhas no passado. A verdade, como disse minha irmã, sempre coloca as coisas no lugar. Todos me apoiaram muito na decisão de fazer o livro.

Como aconteceu o abuso?
Aos 9 anos entrei para um coral da catedral de minha cidade, no interior de Minas Gerais. Logo depois da escola ia para o coral e só voltava no final do dia. O maestro era um religioso nomeado pelo arcebispo. A forma dele ensinar música seguia os padrões dos colégios católicos, com uma disciplina muito rígida, com muitos castigos físicos: tapas no rosto, croques na cabeça (cascudos). Para conquistar uma obediência absoluta ele utilizou de violência psicológica e física para dominar as crianças que estavam a mercê dele. As lembranças do primeiro abuso são aos 12 anos, mas isso aconteceu até os 16 anos.

Após o primeiro abuso, não conseguiu relatar a seus pais?
O maestro era meu tutor, professor, herói, pessoa a quem admirava muito. Nunca imaginei que ele faria algo errado. Então quando fui vítima, fiquei sem compreender o que tinha vivido. Naquela idade ainda não tinha compreensão do que era sexo. Era uma situação dúbia: se o que tinha acontecido estava errado, estaria contando o que não deveria ter feito, por outro lado, se é o professor que tinha feito, como poderia estar errado?

O que te deu força para enfrentá-lo aos 16 anos, após anos de abuso? 
Com o passar dos anos fui tendo uma consciência maior da minha situação. Naquela época morava com ele e outros adolescentes em uma outra cidade. Fui passar férias na casa dos meus pais e vi que as pessoas não viviam na prisão em que eu vivia. O somatório da busca pela liberdade com a consciência de que estava sendo abusado me deu forças para enfrentá-lo. 

Como foi voltar para casa, em silêncio?
Não foi uma convivência normal. Voltei preconceituoso, agressivo, intempestivo, com acessos de fúria. Estava sempre armado, com a sensação de que tinha que me proteger das pessoas. Assim que voltei para casa fui para a capital (Belo Horizonte), estudar. Retornei dois anos depois, mas as sequelas do segredo que escondia tornavam a convivência com meus irmãos muito difícil. 

Durante o resgate de seu passado, descobriu que outros colegas também tinham sido abusados. 
Até os 42 anos achava que tudo aquilo só tinha acontecido comigo. A partir das minhas reflexões e recuperando a memória, percebi que outros também foram abusados, o que pude confirmar quando fiz contato com alguns amigos da época. A partir daí, analisando o que aconteceu, sei que o maestro continuou abusando de outras crianças, e talvez ainda abuse.

Teve vontade de se vingar?
Lógico. A primeira sensação é de raiva, de fazer justiça com a próprias mãos, principalmente quando descobre que o crime prescreveu, que a Justiça não tem como fazer justiça. Minha mulher foi fundamental neste processo, ao me ajudar a pensar com uma consciência mais elevada, a compreender a humanidade do abusador, e o que leva uma pessoa a isto, até para conseguir perdoar, mesmo sem aceitar. 

Você faz críticas à legislação.
No sentido de conscientizar de que a legislação precisa melhorar. Já houve avanços quando a nadadora Joana Maranhão denunciou os abusos sofridos aos 9 anos, praticado por seu técnico. A lei melhorou um pouco, principalmente no caso da prescrição, mas os casos de abuso são formadores de trauma e, geralmente, a pessoa não é capaz de falar sobre o assunto a vida inteira. Então, este tipo de crime não pode ter prescrição, não por causa da punição dos casos que já ocorreram, mas para que a sociedade possa proteger as crianças hoje. É um dos nossos grandes desafios.

O combate à pedofilia se transformou em sua bandeira.
Nós sabemos que é difícil falar sobre este tipo de crime, que é formador de estigma. A sociedade o vê como tabu e quando alguém fala, as pessoas viram as costas, preferem imaginar que não ocorrerá com elas. A minha necessidade de falar é maior no sentido de acabar com o silêncio, com o seu estigma, de expor o abusador. E quanto mais se falar sobre o assunto, mais fácil será para as vítimas compreenderem o que acontece quando ela for vítima, saberá o que falar. O problema é que a pedofilia só é discutida entre adultos, é difícil falar sobre isso com as crianças. Mas a partir do momento em que o assunto for debatido na escola, que as crianças puderem compreender o que é a pedofilia, aí teremos uma sociedade mais protegida contra os abusadores.

Quais dicas dá para os pais?
Lembro, de quando era criança, de minha mãe me orientar a ter cuidado com tarados na rua. A visão das pessoas é de que o abusador é um estranho que vai pegar seu filho a força. O histórico dos abusos mostra que, geralmente, eles são pessoas próximas: vizinhos, parentes, professores. Cabe aos pais uma atenção a detalhes. Não se influenciem pela religião, sobrenome, parentesco, amizade. Não confiem cegamente em instituições e pessoas. Fiquem atentos a qualquer mudança de comportamento de seus filhos. Mas, acima de tudo, ajudem a pressionar para que haja mudanças na legislação para que, assim como a Lei Maria da Penha, tenhamos também uma legislação que garanta a proteção preventiva e não punitiva.

Hoje você é um empresário. Como seus novos amigos reagiram?
Os antigos amigos deram apoio, elogiaram minha atitude. Os novos amigos aceitaram com tranquilidade, entenderam que é um processo pessoal. A partir do meu relato, pessoas do meu círculo de amizade me relataram que também tinham enfrentado o mesmo drama e que nunca tiveram coragem de falar. Também recebi relatos de pessoas desconhecidas. Então, o falar sobre o assunto acaba sendo um estímulo para atingir o maior número de pessoas, nos dá força para ampliar a batalha contra a pedofilia.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Depoimento retirado de um comentário...

COMO JÁ ESCREVI, MUITOS ESTÃO COLOCANDO OS SEUS DEPOIMENTOS NOS COMENTÁRIOS. PASSO OS MESMOS PARA A PÁGINA PRINCIPAL PARA QUE POSSAM SER CONHECIDOS. BYA

Tenho raiva do meu pai. Ele fazia coisas erradas comigo e eu não gostava daquilo, mesmo não entendendo o que se passava, eu era uma criança, tinha apenas 6 anos. Ele esperava minha mãe dormi e vinha até o meu quarto e dizia que aquela era a hora da gente brincar. Ele dizia que se contasse pra alguem ia matar minha mãe, eu tinha muito medo que fizesse isso. Foi muito dificil pra mim, eu não conseguia mais dormi nem comer. Sempre chorava quando tinha que voltar pra casa, minha mãe sabia que tava acontecendo alguma coisa, ela me perguntava sempre porque eu tava chorando porqe não queria voltar pra casa, mas eu tinha medo de que ela não acreditasse em mim. Foi então que um dia ela viu que eu tava com dificuldade pra sentar, eu tava muito machucada, e ela veio conversar comigo, queria saber porque tava daquele jeito, ela disse que não eu não precisava ter medo pra contar e eu achei que devia falar, foi quando contei tudo pra ela depois de quase um ano, meu pai tava trabalhando. Foi um momento muito difícil pra mim e pra ela, ela chorava muito e me disse que aquilo nunca mais ia acontecer, ela arrumou nossas coisa e fomos pra casa da minha vó. Elas me levaram no médico no mesmo dia e eles chamaram o conselho tutelar. Meu pai nunca foi preso, ele disse pra minha mãe que não tinha sido ele que tinha feito aquilo, mas ela não acreditou. No começo eu ainda não conseguia dormi, mesmo longe de casa tinha medo que ele aparessesse, mas isso foi passando com o tempo. Eu era muito magrinha, porque eu não comi, mas quando fui pra casa da minha vó eu voltei a comer. Eu nunca mais vi meu pai, sei só que ele saiu da cidade. Eu hoje namoro, ainda é difícil pra mim ter relação com ele, mas estamos indo aos poucos, ele sabe de tudo que aocnteceu e entende.

sexta-feira, 16 de maio de 2014


NESSE DOMINGO É O DIA DE DIVULGAR A CAUSA CONTRA O ABUSO SEXUAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS. POR FAVOR, COMPARTILHEM!!! SOMENTE COM A ELUCIDAÇÃO PODEREMOS DIMINUIR ESSA VIOLÊNCIA E TAMBÉM A OMISSÃO SOCIAL. AGRADEÇO DE CORAÇÃO...SOMENTE QUEM VIVENCIOU O ABUSO SEXUAL ENTENDE A IMPORTÂNCIA DA DIVULGAÇÃO E, INFELIZMENTE, TAMBÉM TODA A DOR QUE O MESMO CAUSA. BYA ALBUQUERQUE


Foto

domingo, 4 de maio de 2014

Depoimento da Laura...

MAIS UMA VEZ O DEPOIMENTO FOI RETIRADO DE UM COMENTÁRIO...JÁ QUE POUCOS COMENTAM OU COSTUMAM LER OS MESMOS. BYA

Olá amigas, podem me chamar de Laura. 
Venho aqui porquê me sinto meio sufocada e acho que alguém poderia entender o que eu falo.
Quando eu tinha 3 anos meu pai me molestou.
Eu cresci sendo uma criança isolada, até hoje me sinto mal.
Minha mãe sabe do ocorrido, mas ela é obcecada com meu pai e tem problema mental então nunca fez nada em relação. 
Sabe o que é pior? Ele é homossexual e diz que o que teve com minha mãe foi apenas uma tentativa de ser normal, mas então qual seria a justificativa pro que ele fez comigo? 
Eu me sinto totalmente sozinha, não posso contar com minha mãe pra nada e com meu pai nem se fala.
Eu não aguento quando alguém fala de pai e mãe comigo, eu sempre choro.
Tenho depressão há muito tempo, mas não faço tratamento. 
Cresci sendo maltratada por ele, ele me fazia sentir como um lixo, nunca fiz grandes amigos, sempre estive mais sozinha e hoje em dia não é muito diferente.
É uma dor que eu carrego à muito tempo, mas talvez eu tenha aprendido a fazer dela uma companhia, alguém que me entende perfeitamente.

sábado, 29 de março de 2014

Depoimento de A...

Após ler os depoimentos, sentir vontade de desabafar com vocês, sei que provavelmente não conheço nenhuma de vocês mais tenho certeza que vocês vão me entender.
Minha vida sempre foi meio desfocada, perdi minha mãe com 2 anos meu pai (felizmente) sempre cuidou de mim e do meu irmão, nunca nos molestou nem nada disso, ele se casou novamente quando eu tinha 4 para 5 anos, minha madrasta sempre foi e é boa para mim, ela tinha dois filhos que eram mais velhos que eu, crescemos juntos, um dia eu cheguei da escola eu tinha por volta de uns 8 ou 9 anos só estava o filho mais novo dela, ele me chamou para o quarto e disse que queria me mostrar uma coisa, eu fui. Quando entrei no quarto ele ligou o computador e colocou um filme porno, e falou vem cá ver, eu me aproximei e fiquei deeolhando meio sem saber o que estava acontecendo no filme, então ele ficou atrás de mim e falou você podia ser igual essa mulher, fiquei pasma, ele me virou de frente pra ele pediu minha mão, eu estendi pra ele, que colocou sobre seu pênis que estava duro, tirei a mão rápido de lá e sai correndo, ele veio atrás de mim e falou se eu contasse pra alguém ele ia falar que eu estava inventando, e que ninguém acreditaria em mim, fiquei com medo de contar e minha madrasta brigar comigo, como meu pai nunca foi de conversar muito fiquei quieta. Porém depois desse dia alguns dias depois ele foi no meu quarto que era separado do outro onde dormiam os três (meu irmão e os dois fihos da minha madrasta) ele me acordou com o pênis bem no meu rosto, e antes que eu pudesse fazer algumas coisa ele mandou eu abrir a boca, fechei-a mais ainda, mas ele começou a forçar oo pênis dele e falando baixo ele disse que era melhor eu abrir logo se não ele ia m machucar, isso se repetiu várias vezes, eu ficava me sentindo um nojo, mais ainda assim tinha medo de contar o que estava acontecendo e minha madrasta brigar comigo, quando ele começou a namorar parou de ficar indo no meu quarto, eu ficava com medo toda noite, passou mais tempo eu tinha uns 13 anos e por descuido fiquei sozinha em casa (coisa que eu não fazia) e ele chegou mais cedo do curso que ele fazia, quando viu que eu estava sozinha me levou para o quarto e falou que queria ver minha vagina, eu disse que não e que se ele ficasse no meu quarto eu ia gritar até alguém aparecer, ele se afastou e eu pensei que tinha ido para outro lugar, engano meu assim que eu sentei na cama ele apareceu do nada e me prendeu com a boca no colchão e falou "grita agora, quero ver quem vai vim aqui" eu comecei a chorar e ele levantou a saia que eu usava e baixou minha calcinha, eu comecei a me debater na cama para me livrar dele, ele deitou em cima de mim e falou que só queria ver, se eu continuasse a fazer drama que ele podia muito bem me estuprar, eu fiquei mais apavorada ainda, porém me acalmei com medo dele abusar de mim. Depois que ele viu, me jogou na cama e falou- ta vendo eu disse que só queria olhar. E saiu do quarto. naquele dia pensei em matar ele, mais tudo me vinha a cabeça, onde eu iria, o que faria, se alguém acreditaria em mim, acabei me calando essa é a primeira vez que conto isso, e sinto que talves se eu tivesse contado pra alguém ou feito algo podia ter sido diferente. Ele mudou bastante depois desse dia, nunca mais tentou se aproveitar de mim, e se casou. Ás vezes acho que tudo não passou de imaginação, mas sempre me pergunto se fosse assim porque não consigo ficar sozinha com alguém, ou sinto pavor de quando alguém toca em mim?

sábado, 15 de março de 2014

Depoimento da Alice

Olá Bia, encontrei seu blog meio que sem querer, li sua história e me identifico muito em muitos pontos, tb fui abusada pelo meu pai, não houve estupro, porem me molestava e pedia para tocar no seu pênis, enfim só fui me dar conta do que ele fez comigo quando já era adulta, na época eu só tinha 3 anos, hj sou mãe e morro de medo que aconteça isso com um dos meus filhos, não culpo minha mãe por nunca ter notado, agora com 31 anos tive coragem de contar pra ela, ela ficou abalada e disse q sempre fez de tudo pra nos proteger (eu e 2 irmãs e 1 irmão ) e veio de quem ela nunca desconfiou , eles separam qdo eu tinha 6 meses de vida e voltaram qdo eu tinha quase 3 anos, só que não deu certo pq ele era muito infiel, qdo completei 11 anos ele morreu, não consegui derramar uma lágrima no velório, porém nunca havia saído da minha cabeça tudo que aconteceu, até uns 4 anos atrás tinha pesadelos com ele,  muito dos sonhos eu falava pra ele tudo que tava entalado na garganta.
Acredito que por tudo que ele fez, me bloqueou em várias áreas da minha vida.

Em 2009 aceitei Jesus em minha vida e com a ajuda dele consegui perdoar meu pai e hj consigo lembrar /falar sobre o assunto sem sentir dor magoa e pavor.
Li um livro que me ajudou muito na época, é da autora Joyce Meyer, chama se Beleza em vez de cinzas, se tiver interesse leia e depois me conta.
Ela sofreu durante anos abuso de seu pai.
Ahh minha mãe infelizmente tb sofreu abusos de seus irmãos e qdo tinha 9 anos de um patrão ( ela trabalhava de empregada na casa dele)

É assustador como é comum !!!


Bjxx e obrigada por compartilhar suas experiências conosco.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Depoimento da Tina

Ola queridas meu nome e ... tenho 39 anos moro no rio de janeiro e venho aki pra contar um pouco do que sofri na mao de um tio.eu me lembro que eu era muito pequena e ele ja me colocava no colo dele e me acariciava mesmo perto dos meu pais,quando eu tinha 7 anos de idade meu pai faleceu,e quando eu tinha 13 minha mae faleceu.os unicos parentes que eu tinha era ele e minha tia ,entao tivemos que ir morar na casa deles eu e meu irmao.os meu dias naquela casa foram de inferno total.todos os dias ele me molestava e me dizia que seu eu falasse alguma coisa pra minha tia ela nao iria acreditar,de fato ela era louca por ele e nao iria acreditar em mim de maneira alguma.esse montro me estuprou varias vezes.quando eu tinha 15 anos eu estava em uma festa com umas amigas e senti uma coisa estranha,como se tivesse mechendo dentro de mim.eu namorava um rapaz escondido e ja tinha ido pra cama com ele,algumas vezes.falei com uma amiga e ela me disse ,CARA VC ESTA GRAVIDA.eu disse que ela estava louca,mas fui ao medico e descobrir que eu ja estava de 4 meses,deduzi que fosse do meu namorado,falei pra ele ,ficou tudo bem ,e eu fui falar pra minha tia,ela logo me disse que eu teria que sair da casa dela pois eu era uma puta ,logo ele chegou e ficou louco quando soube,me colocou pra correr com uma faca na mao.fui embora ,e procurei meu namorado que tambem nao me ajudou e eu fui viver nas ruas,encontrei uma pessoa quando eu estava com 8 meses de gestaçao que me ajudou,mas pra minha surpresa quando ela naceu que fizeram os exames .ela tinha o mesmo sangue que ele .0+.e sem contar que ela e igual a ele,fiquei desesperada pois eu nao queria aquela criança,nao mesmo.para minha surpresa ele foi no hospital com a mulher dele e levou a menina e disse que eu nao tinha condiçoes de criar ela deixei pois eu nao a queria mesmo.ela ficou com eles ate os 13 anos e venho morar comigo pis els nao a quiseram mais.minha relaçao com ela toda vida foi pessima ate hoje..ela tem hoje 22 anos e nao a suporto ,e ela sente,pois ela nao sabe de nada.pra ela o rapaz que era meu namorado na epoca que e o pai dela.minha vida e um inferno .nao sinto nada por ela,isso me mata a cada dianao sei o que fazer me ajudem por favor...muito obrigada por me deixar desabafar aki ....

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Depoimento da B.

QUE LÁSTIMA...CRIANÇAS QUE DEVERIAM ESTAR ESTUDANDO E SE DIVERTINDO, JÁ VIRARAM ADULTAS E ESTÃO TENTANDO NÃO SE SUFOCAR COM DOR...

Não sei, se é por aqui que mando minha história mas espero que sim.

Bom, tenho 10 anos e fui molestada pelo meu padrasto quando tinha 8. Sabe, um homem que tinha três filhas..... Ele tinha problemas psicológicos, tinha convulsão, ameaçava se matar e se minha mãe não reagisse poderia até ter batido nela! Continuando, começou como uma brincadeira e ele me colocou no colo dele e nós estávamos sozinhos (minha mãe estava trabalhando e minha irmã menor na creche), quando estava no colo dele ele começou a se esfregar em mim e depois pediu pra minha deitar no sofá  e o ato continuou...... Eu me culpo, por ter deixado ele me tocar, eu me sentia suja! Mas o que eu poderia fazer? Um cara que tinha problemas psicológicos! Contra uma menina! Ele não me ameaçava, mas eu tinha medo! Ficava imóvel!
Pra acabar com este inferno, decidi contar para minha melhor amiga (também prima) que tinha uns 11 pra 12 anos, que contou pra sua irmã  mais velha, a mãe das duas contou para minha mãe, tudo aquilo era horrível! Mas o mais horrível, foi ver minha mãe chorar várias e várias vezes e eu não podia fazer nada! Passei por muitas situações constrangedoras, tendo que contar tudo para várias pessoas! Fazer aquele exame!
Depois de eu ter contado para minha mãe, o ato não se repetiu, mas ainda me sentia suja, não era a mesma coisa, ele me dava tanto carinho quanto o meu pai e foi fazer isso! Minha mãe ficou mais um ano com ele, depois não deu mais, as brigas as ameças, um dia deixamos de dormir em casa, pois ele falou pra minha mãe não voltar. Mudei de cidade e agora estou bem melhor, toda vez que minha irmã mais nova (filha dele) ou minha mãe fala dele eu me afasto.
Eu me culpo, mas não deixo de viver por nenhum covarde! Que quis estragar minha vida! Pois minha família é minha razão de viver!

Beijos obg pela oportunidade e adoro o seu blog!!!!