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Nossas Histórias

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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Depoimento da "SEM NOME"

Oi, Bya. Como não achei nenhum pseudônimo que gostasse, resolvi por esse mesmo. Mesmo porque o nome é o que menos interessa. Sou uma mulher de mais de 40 anos e fui abusada pelo meu pai na infância e adolescência. É claro que não foi por minha vontade e sim, com muita violência e ameaças. Li os depoimentos do blog e percebi que todas as mulheres mais velhas tiveram o mesmo problema além do medo intenso: não ter para quem recorrer. Aliás, faço parte faz anos da sua comunidade e acho que nem mesmo hoje se pode fazer alguma coisa.
Minha mãe e família sabiam de tudo e culparam a mim. Quem manda ter um corpo bonito e, segundo muitos, ser atraente? Corpo bonito na juventude, pois engordei mais de 30 quilos para meu pai não me querer mais. E ele não quis. Deve ter achado outra, mas até hoje sou a culpada. Vi que não fui a única a usar desse artifício.
Não preciso falar das consequências: vários tipos de fobias, problemas físicos e emocionais. Mas o pior é o que comecei a sentir agora, em plena maturidade. Raiva, ódio, ressentimento, mágoa e desespero. Desespero de ter visto a minha vida fluir entre os meus dedos. Impotência de tentar recomeçar com quase 50 anos. Mágoa e ódio de ver que toda a família se deu bem e eu, por um capricho do destino, não pude estudar e nunca soube o que é amor. Mesmo numa relação sexual, nunca senti muito tesão...não sei o que é orgasmo. Não é justo!!!!!!!!!!!!!!!! 
Meu pai abusava de mim constantemente. De mim e da minha irmã. Só que ela aceitava o fato e eu era a rebelde. Ela recebeu tudo e eu nada (materialmente falando). E o mais triste é que a minha mãe a ama profundamente, pois é a coitadinha e a mim ela renega, pois eu fui a concorrente. Concorrente? Como?
Bya, você me conhece o suficiente para saber o quanto eu lutei para não sucumbir. E sabe que não sou nenhuma revoltada, que trabalho pra caramba e que luto para alcançar nem que seja um pouco da tal coisa que chamam de felicidade ou paz de espírito. Mas resolvi seguir o seu conselho e vomitar toda a dor e mágoa que estou sentindo. A partir de agora NÃO SOU MAIS UMA FILHA DO SILENCIO. Dei o meu grito e me sinto bem melhor e mais aliviada. Hoje sei que nunca fui vadia, ao contrário de muitos da minha família. Me dou mais valor pois nunca me vendi, assim como tantos outros. E não desisti de estudar e de encontrar um amor, de ser "normal". Agradeço esse desabafo a toda comunidade, pois vendo a força de tantos, consegui a minha para por no papel esse desabafo. Talvez, se eu tivesse sido forte no passado, teria uma vida. Agradeço a você Bya, mesmo sabendo o quanto você odeia agradecimentos. Acho legal você não vender sua imagem para revistas ou programas de TV. Não vale a pena. O que vale a pena é saber que somos honestas conosco mesmas e que lutaremos para que outras pessoas também desabafem. E sintam o alívio que senti ao escrever esse texto. Como puxar o tampo de ralo de uma banheira lotada de merda até a borda. Sei que antes de enche-la novamente com água limpa é preciso limpa-la bem. Mas vale a pena todo o trabalho, ou seja, toda a dor. E espero um dia te mandar um relato de superação, me sentindo vitoriosa e não arrasada.




Um comentário:

  1. Querida amiga, tenho muito orgulho por vc ter tido coragem de botar pra fora os seus sentimentos. Tenho certeza absoluta que dentro de um tempo vou receber um relato seu contando as vitórias conquistadas. Vc já deu os primeiros passos para superação e pode ter certeza que eu também senti muita mágoa...ressentimentos...raiva e, às vezes, sinto até hoje em algumas ocasiões. Muita força para vc. Abraço carinhoso!!!

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