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Nossas Histórias

ESSE BLOG É PARA CONTARMOS AS NOSSAS HISTÓRIAS, MOSTRAR A NOSSA LUTA E A NOSSA VITÓRIA...

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Depoimento da Bela


Bia
Não lembro exatamente quantos anos tinha (7 ou 8 anos).
Morávamos numa ladeira e do meu muro conseguia ver toda a casa do vizinho.
Um dia o vi violentando uma de suas netas. Fiquei desesperada.
Gritei para ele parar e minha mãe e esposa dele viram tudo.
Ele era pastor de uma igreja grande e tinha uma situação financeira muito boa, além de ser muito bem visto no bairro.
Não sei se ele ameaçou minha mãe. Só sei que a partir daquele momento fui decretada LOUCA.
Fazia terapia com um psicólogo comprado e ia ao psiquiatra.
Acabei achando que era maluca mesmo (já que todos achavam) e passei a ter um comportamento arredio e agressivo.
Tinha uma fixação em olhar para a casa desse vizinho e presenciei ele violentar TODAS AS NETAS seguidas vezes.
Nessas ocasiões, ele me chamava e fazia gestos obscenos e me mostrava a genitália. Se masturbava e eu ficava ali. Imóvel e muda.
Passei a vida achando que aquilo era fruto da minha loucura.
Graças aos céus, quando fui para o ensino médio, nos mudamos. O tratamento parou, mas o estrago já estava feito.
Passei mais de 20 anos sem voltar àquele lugar ou ver aquelas pessoas.
Quando tive coragem, procurei um psiquiatra e uma psicóloga para me tratar de verdade, mas ainda pairava a dúvida na minha cabeça, por mais que me tratasse.
Há cinco anos, durante o sepultamento de uma amiga de infância, reencontrei essas meninas. No meio de uma conversa informal, uma delas tocou no assunto e contaram todo o martírio sofrido por elas.
Esse cara teve 6 filhos (5 meninos e 1 menina). Essa filha que foi violentada, optou por ser lésbica, devido à repulsa que sente pelo sexo masculino.
Os 2 filhos mais jovens se mataram. O do meio morreu de overdose de drogas. Outro, desapareceu (sumiu da família) e o mais velho é o único que conseguiu constituir uma família.
TODAS as netas foram violentadas desde crianças e, assim como a filha, foram desvirginadas pelo avô.
O neto mais velho dele também se matou.
A esposa foi definhando até morrer. Não tinha nenhuma doença.
Esse cara destruiu a família dele e fez um estrago na minha vida.
Tive enormes dificuldades para namorar. Meu noivo, com quem eu já estava há 7 anos, me acusava de ser lésbica, por que eu não aceitava sequer avançar no namoro, e não podia sequer tocar no assunto sexo.
Tivemos uma crise, por causa disso e ficamos afastados por 3 meses. Nesse tempo, pedi para o meu melhor amigo transar comigo.
Precisava saber se, além de louca, eu tinha algum “problema” com minha sexualidade.
Não foi a transa ideal, mas me traquilizou.
Só consegui me realizar como mulher depois dos 30 anos. Após muito tratamento e muita ofensa do meu então marido e de alguns poucos namorados com quem tentei me relacionar.
Algumas pessoas, do bairro onde cresci e da escola onde estudei se surpreendem ao saber que sou “normal”, muito bem sucedida em minha carreira profissional e com o meu trabalho social.
Quando comecei a trabalhar como voluntária com população de rua, aos 18 anos, comecei a sair daquele “mundo da loucura”. Ali, eu não era a maluca CDF da escola, ou a maluca isolada de casa.
Era NORMAL. Aquele trabalho foi o começo de uma redenção.
Depois que conversei com as meninas e constatei que tudo que vi e vivi era VERDADE, decidi fazer algo em favor das mulheres que tinham sofrido abuso na infância. Não encontrei nenhuma instituição na qual pudesse ser voluntária e ninguém que quisesse ser  ajudado. São verdadeiramente FILHOS E FILHAS DO SILÊNCIO.
Procurei então ajudar crianças vítimas de abuso sexual, negligência, maus tratos e exploração sexual.
No começo não havia nada. Era um TABU. Minha família (que sempre creditou meu trabalho social à minha “doença mental”) achou que falar sobre isso, ir para a televisão, criar página no Orkut era o ápice da loucura.
Mas consegui vencer meus medos, superar a dor de ver e não poder falar, o sentimento de culpa pela omissão e principalmente uma doença mental inventada e sustentada por muitos anos e estou aqui.
Te agradeço, Bya, por me ajudar a colocar para fora toda essa dor. Hoje, consigo falar nisso com serenidade, apesar da dor.
A participação no Grupo Filhas do Silêncio me fortaleceu demais.
Creio ter feito as escolhas certas para me curar: FORTALECIMENTO ESPIRITUAL, TRATAMENTO ADEQUADO E PRINCIPALMENTE: FAZER ALGO PARA AJUDAR O PRÓXIMO!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

História da Liv...


Minha História...

Vim adiando o dia de postar a minha história aqui, mas acho que
 já está mais que na hora. 
Só para esclarecer, minha história é muito mais do que isso!
Minha vida é maior do que isso, 
mas para ser objetiva, vou tentar me ater aos
 fatos que me levaram a criar esse blog.

Eu tive uma infância muito feliz, antes de tudo,
 até que em algum momento entre os meus 10 e 11 anos,
 meus pais se separaram. Minha mãe logo logo se envolveu
com um homem que vou chamar de R.
 Em alguns meses ele já morava na nossa casa,
e eu gostei da ideia, de verdade.
 Ele tinha uma filha (ainda tem), que eu vou chamar de T.
Lembro da primeira vez que
 ele me tocou como se fosse ontem. E depois da segunda, da terceira. 
Até que foram tantas que não consigo mais distinguir os dias.
Alguns mais marcantes, 
outros que eu simplesmente não lembro.
E não, não era com violencia pura e bruta. 
Era diferente disso. Nas primeiras vezes, eu paralisei, por completo.
 Sem voz,
 sem movimento algum. Tudo que eu lembro era que na minha mente
 ressoava "que que isso?????" Até que piorou, é claro.
Começou a doer fisicamente e eu lutava
 para que parasse, porém acabei percebendo que era inútil, e só piorava a situação.
 Então, eu aprendi a aguentar calada, porque assim terminava mais rápido
 e ele me deixava em paz por mais tempo. E nisso, o tempo passou,
 eu fui crescendo e
 odiando cada vez mais. Nesse tempo, minha irmã,
 I. nasceu, o que só complicou as coisas.
 Minha mãe, bom, vou dedicar o próximo parágrafo à ela.

A fase "ficar calada e esperar acabar" passou.
 Um ódio inexplicável cresceu dentro de mim.
 E olhando para trás agora, eu me pergunto como eu
 consegui conviver com isso por tanto tempo.
Numa terça feira de março do ano passado,
o único resto de dignidade que eu ainda possuía,
 foi tirado de mim. É nesses cinco anos conheci todos
os aspectos de uma vida sexual,
menos o sexo em si, até essa terça feira.
No dia seguinte no colégio, não era difícil notar que
havia algo de errado comigo, e minha melhor amiga de todos os tempos, P.,
 se importou o
suficiente para não deixar para lá.
Na quinta feira, num impulso que me surpreendeu,
 eu escrevi o que tinha acontecido num pedaço de papel, e entreguei para ela.
Bom isso desencadeou uma sequencia de eventos que terminou comigo, P.,
a mãe de P.,
 todas no trabalho da minha mãe para contar a ela o que tinha acontecido.

E agora aqui vem ele, o paragrafo que eu chamo de: Minha Mãe.
Durante esses cinco anos diversas foram as vezes que minha mãe
 quase flagrou os "acontecimentos". Ela não via simplesmente porque
não queria.
 Eu não confiava nela o suficiente para contar,
e na minha cabeça eu não tinha
saída alguma daquela situação. A minha opção era ficar ali onde eu estava.
Hoje, é claro, percebo que aquela era de longe a ultima opção.
Eu podia ter dito á minha
mãe antes, ao meu pai, á policia, sei lá, qualquer um!
 Mas não me culpo! Agi como uma
criança jogada naquela vida, que entrou na adolescência naquela vida
. Que não teve a
oportunidade do primeiro beijo. da primeira vez.
 Que tem uma mãe que preferiu se cegar
diante a verdade do que encará-la. Não me admira que eu não tenha
 confiado nela antes,
 dado ao que aconteceu depois. Naquele dia, no trabalho dela,
ela acreditou em mim.
Reagiu com eu acredito que qualquer mãe reagiria.
Chorou, xingou e tudo mais. As coisas se
sucederam de uma maneira na mente dela, que ainda não entendo.
 Aos poucos ela foi mudando
 e no final do mesmo dia, ela já dizia ser impossível o que eu estava dizendo.
 Que se fosse verdade,
eu teria a dito antes. Três dias depois, ela expulsará R. de casa,
 mas me culpava disso.
 Dizia ter tido que escolher entre a filha e o marido,
 mas que ela sempre escolheria a mim,
 não importa o quão errada eu estivesse. Não espero que ninguém entenda o tanto
que isso me magoou, mas acreditem em mim, machucou
 talvez o tanto quanto ele me machucou.
 Durante todo o ano de 2010 eles continuaram namorando,
 e eu continuei sendo a filha que
 impedia o amor da mãe, o amor da família e etc.
Até que chegou janeiro de 2011
 e tudo mudou, de novo.

T., a filha dele, num desabafo com a minha mãe,
 contou que R. havia a machucado também.
 E a partir daí uma outra série de eventos se desencadeou,
terminando com a minha mãe me
 perguntando: "Por que você não me disse a verdade?"
E eu engolindo o jorro de palavras
 que estava prestes a sair da minha boca.
 Não valia a pena, e não vale até hoje, começar
 essa discussão. Talvez seja covardia minha, talvez eu devesse
 confrontar todo o passado.
Ou talvez, eu devesse deixar adormecido um pouco.
Depois de algumas conversas e resoluções,
todas nós terminamos numa delegacia, fazendo o que
 deveria ter sido feito um ano atras
. O processo todo da justiça, eu deixo para próximos posts,
 porque tenho certeza de que é
 um assunto que muitos tem interesse, e deve ser relatado com mais detalhes.
Hoje,
eu espero ansiosamente por uma sentença
que parece que não vai sair nunca mais!
Milhões de prazos já se esgotaram, mas o Sr. Juiz,
ainda não se decidiu.

Bom, e essa é a "minha história".
Mas como eu disse, minha história é muiiiito mais do que isso.
 Envolve muitas alegrias também :)
Não posso deixar de falar que é sim bem difícil escrever isso na internet,
e imaginar o que uma
pessoa imparcial pensará. O que eu posso dizer, é que eu não me importo tanto.
Eu me orgulho de quem eu sou. Do que eu fiz. Do que eu conquistei apesar de tudo.
 Ainda tenho um milhão de problemas para resolver dentro de mim
 mas daremos tempo ao tempo.
Espero muito ter ajudado alguém, e senão, posso dizer que me ajudei. 

sábado, 20 de agosto de 2011

Depoimento de Isabel Soares

Olá,meu nome é Isabel Soares,visitei seu blog e resolvi escrever esse depoimento.
A um ano atras,fui vitima de violência,e acredite o agressor foi meu irmão,sangue do meu sangue...
Até hoje isso me dói no peito como uma ferida que não cura,tudo aconteceu por causa de uma dívida que ele tinha comigo,resolvi cobrar afinal,sou divorciada e crio meus 3 filhos sozinha.Ele é sargento da marinha,e estava me devendo 100 reais por conta de um trabalho de babá que eu prestei para os enteados dele enquanto ele viajava.Quando ele voltou de viagem,ele simplismente disse que não iria me pagar e pronto,resolvi cobrar e ele apareceu na minha casa como quem estava possuído por um gênio do mal...chegou no meu portão aos gritos,mandando eu abrir,como eu estava sozinha em casa,nao abri ele entao começou a me xingar com palavras de baixo calão e arrombou meu portão,derrubando junto com o portão o meu muro,me agrediu com socos e chutes.
Ele é um homem de 1.80m,pratica musculaçao e tem um histórico bem agressivo.So consegui na hora gritar por socorro,meus vizinhos me socorreram e me levaram ao hospital,depois á delegacia.Prestei queixa,mas o mais absurdo é que fui tratada com desleixo pelo policial que fazia o B.O,fiz tudo como me mandaram,exame de corpo e delito,e depois de um tempo fui informada que o juiz que julgava o caso,decidiu arquivar o processo alegando nao ter provas o suficiente para condená-lo.
Mas que provas ele queria?minha certidao de óbito?Confesso que nao acredito nessa tal lei maria da penha...só porque meu irmao tem advogados e é militar arquivaram o caso...
E eu?e a vergonha que eu passei? a vergonha da agressao?a vergonha de ter sido humilhada perante os vizinhos?nao conta?
Hoje,depois de um  ano,me afastei da minha familia,e trago dentro de mim a vergonha daquele dia...
Doeu mais na alma do que no corpo...Até hj nao consigo me livrar desse sentimento de abandono que eu sinto...
Ele está lá..solto..pronto para fazer mais uma vítima...(ele possui um processo por ter agredido o cunhado dele,e foi condenado a pagar algumas cestas basicas e pronto)
Mas no meu caso nem isso ele fez..está lá...soltinho...
Até quando ???
O que me incomoda não é o barulho dos maus....e sim o silêncio dos bons...

Muito obrigada pela atençao...beijos

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Depoimento da Débora

Leiam... Isso é muito grave!!! E CONTINUEM REPASSANDO... Mulheres, leiam com atenção! E homens, repassem por favor.Eu queria relatar um fato que aconteceu comigo.

Meu nome é Debora. Eu conheci um rapaz na net em um site de bate-papo com o nome de RODRIGO-MG. Durante um tempo eu troquei e-mail com esse cara, até que então eu marquei um encontro com esse sujeito, que parecia ser uma pessoa bem interessante.
Nós marcamos de nos encontrarmos em um Café que tem no shopping pátio savassi. Preferi ir lá, pois é um local movimentado, com várias pessoas. Não teria perigo, pois não era um local ermo. O rapaz era bem simpático, bonito.
Depois de tomarmos o nosso café e ficarmos conversando e andando pelo o Shopping, até que do nada ele saca discretamente um revólver por debaixo da sua jaqueta e coloca nas minhas costas e manda eu ficar calada. Se eu fizesse alguma coisa ele me daria um tiro nas minhas costas, ali mesmo no meio do shopping. Fiquei estática, trêmula. Eu olhava bem no fundo dos olhos das pessoas que eu encontrava no corredor do Shopping, para que elas pudessem perceber o que estava me ocorrendo. Só que ninguém se deu conta. Ele pediu para levá-lo até o meu carro que estava no estacionamento.
Entramos no carro e logo em seguida chegaram mais dois sujeitos (Que eram amigos dele, e que estavam atrás da gente o tempo todo observando tudo). Fui obrigada a dirigir até o parque das Mangabeiras , onde eu fui estuprada durante muitas horas.
Fizeram de tudo comigo. Tive crise de choro, vomitei. Implorei pra que não fizessem aquilo. Mas nada comoveu aqueles monstros. Depois me arrancaram do carro e começaram a me espancar. Me xingaram, chutaram, espancaram. Fui muito humilhada. Fui espancada com uma barra de ferro.
Na verdade esse sujeito que conheci na net faz parte de uma gangue de estupradores que marcam encontro na net para estuprar. Tive afundamento de crânio devido a essa violência toda que sofri. Perdi dentes, sofri perda de visão do olho direito, devido a um chute que recebi no olho. Fiquei com hematomas no corpo todo, sofri uma fratura no braço esquerdo. Depois disso tudo ainda urinaram em mim. Fiquei praticamente horas jogada no chão do parque totalmente nua. Algumas pessoas me viram e me socorreram.
Fiz exame de corpo de delito e fiz queixa contra tais pessoas. A polícia está investigando o caso pra ver se acha tais monstros. Por causa disso tudo estou com anorexia nervosa (perdi 25 quilos) e estou sofrendo de depressão.
Então amiga, gostaria que você tomasse cuidado sempre, pois não quero que te aconteça o que me aconteceu.

Debora
Hospital Luxemburgo 

domingo, 3 de julho de 2011

Recado para família Engrácia e suas ramificações.

Gostaria que qualquer dúvida que houver, sobre o fato de eu ter sido abusada pelo meu pai e negligenciada pela família, fosse resolvida comigo, pessoalmente...Estou de volta a Ribeirão Preto e meu telefone é: 8140.9987
É muito fácil julgar, falar...difícil é estender a mão...ajudar. Através do meu comportamento pedia socorro e, apesar de verem o despotismo do meu pai, ninguém foi capaz de chegar e perguntar o que estava acontecendo...O triste é que têm pessoas que se dizem espíritas...eu sou. Foi a minha querida avó, Zilda Gama, que me iniciou no espiritismo, e tenho muito orgulho de ter tido avós tão bacanas. E como espírita kardecista praticante, sei que colhemos somente o que plantamos...Eu fui a VÍTIMA...e não a ABUSADORA!!! Se é tão difícil para vocês digerirem esse fato, paciência. Então, já que vocês nunca se importaram mesmo, façam o favor de ter a dignidade de nós deixar em paz. Pois eu já estou recuperando a minha dignidade e não dependi de vocês para isso!!! Máshenka Engrácia Fróes.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Momentos...

MOMENTO III

Agonia estava no centrão de São Paulo, perdida, desesperada. O papel com endereço na mão. Na verdade, já havia avistado a loja, mas não tinha coragem de entrar. Se sentia só e desamparada...mas sabia que tinha que fazer. Entrou na loja, e sem permeio, pediu a beberagem. Pagou, ouviu a explicação da velha senhora, que devia vender centenas de garrafas por dia, mas, por algum motivo, se simpatizou com a menina pequena, que aos 22 anos, aparentava 16 ou 17. Fez questão, com muita simpatia em explicar tudo. No seu olhar se podia ler: "minha filha, será que é preciso isso"? Agonia agradeceu e saiu da loja. Precisava decidir quando e onde tomar. Sabia que não podia demorar...pois a coisa que mais queria era ser mãe. Sabia que o seu pai, através de um colega, estava procurando uma boa clínica de aborto. E, principalmente, sabia que não podia ter esse filho sozinha. Pegou ônibus até a USP e entrou no prédio das Ciências Sociais. Cumprimentou alguns colegas e recusou de ir almoçar, apesar da fome que sentia. Se trancou no banheiro, sentou no chão e chorou. Após a crise de choro, pegou a beberagem e tomou tudo de uma vez...era amarga e enjoativa, mas não teve problemas em manté-la no estômago. Pegou as coisas e foi dar uma volta pelas alamedas arborizadas, tentando se acalmar. Às duas horas entrou na aula de antropologia, com a professora de quem gostava muito e que também sentia simpatia pela Agonia. Umas três horas começou a sentir fortes cólicas, contrações. De repente se sentiu molhada em baixo...estava desprevenida, pois não imaginava o efeito tão rápido. Cochichou para amiga, que passou um absorvente para ela. Foi ao banheiro; ainda bem que estava de calça jeans escura e uma casaco que tampava a bunda...se não, não saberia o que fazer. Ao voltar para classe, sentiu náuseas e tontura, mas conseguiu caminhar com passo firme até o seu lugar. A professora e a colega perceberam que havia algo errado. A mestra passou um debate em grupo e veio se sentar ao lado da Agonia, que a está hora estava com uma hemorragia tão forte, que a única coisa que desejava era voltar para casa, já que morava em Santos. Estava branca, quase transparente...No desespero, ninguém se lembrou do Hospital Universitário. Enquanto a professora foi providenciar um taxi, Agonia pegou mais dois absorventes com a amiga, que utilizou ao mesmo tempo. Ao entrar no taxi, pediu para ser levada à rodoviária do Jabaquara, onde pegaria um outro taxi que a deixaria em casa. Em mais ou menos dez minutos se sentiu encharcada novamente. O motorista não parava de olhar pelo espelho e depois de algum tempo, implorou para levá-la ao hospital. Dava para perceber a preocupação dele, mas a Agonia preferiu seguir para a rodoviária. Chegando lá, o motorista nem queria cobrar a corrida, mas ela fez questão de pagar. Foi a última coisa que a Agonia lembra. Como pegou o taxi, como desceu a serra e chegou em casa, que desculpa que deu para a empregada e a irmã e, depois, ao pai...ficou perdido no fundo da mente. Demorou dias de cama, perdeu o semestre, mas até hoje a Agonia lembra de que seu filho ou sua filha estaria completando 22 anos nesse ano de 2011. Até hoje vem uma espécie de saudade, de perda que nunca poderá ser revertida. Por causa da ganância e psicopatia de um homem, o pai da Agonia, uma vida foi sacrificada. Uma não, duas, pois até hoje as consequências emocionais prevalecem...

Dessa vez eu queria dizer que Agonia existiu e que o fato não pertencia à realidade...Mas infelizmente não é bem assim. A Agonia está viva e o fato foi real. Infelizmente...

Momentos...

MOMENTO II


Alma* acordou totalmente desanimada, mesmo sendo domingo. Quase não dormiu nada, sonhando acordada praticamente durante toda a noite. Era assim que vivia aos 16 anos, mais alma que vida. Não passava na sua cabeça que já estava com forte depressão e vários outros distúrbios emocionais. Naquela casa, a palavra depressão significava frescura. Como todo domingo, de manhã iam à praia. Na volta, paravam num barzinho da moda e comiam um petisco. Todo esse tempo, Alma sonhava acordada...Sonhava com outros pais, que era querida e bonita e que tinha muitos amigos. E, principalmente, que era muito amada. O pai preparava o almoço, enquanto tomava um aperitivo com a mãe e conversavam. Como sempre, a conversa girava em torno dos afazeres da tarde: ida ao shopping ou ao supermercado da mãe com a filha caçula. Alma, quase chorando, pedia para sair junto. Mas o olhar ameaçador do pai e a total indiferença da mãe já prediziam o que iria acontecer... À tarde, na hora da mãe sair, Alma fazia mais tentativas de ir junto...tudo em vão. Quando a porta se fechava, o pai partia imediatamente para o ataque. Alma não tinha para onde fugir, onde se esconder ou para quem contar. Só podia sonhar...As investidas do pai eram cada vez mais fortes e agressivas. Queria a virginidade da filha, seja através das fortes ameaças e chantagens ou através de oferecimento de altas somas de dinheiro. Alma não sabe como não cedeu, mas o pai sempre conseguia se satisfazer, obrigando a filha a práticas mais nojentas. Quando terminava, forçava a Alma a pegar algum dinheiro, como compensação de ter sido tão "obediente". Dinheiro esse que ela nunca usou para si! Depois do ato, o pai fazia de tudo para acalmar e agradar a filha. Quando a mãe chegava com a irmã, o ambiente já estava normalizado. Somente a Alma percebia a mãe mais agressiva e distante. O domingo terminava com a ida à pizzaria. Na volta, Alma se refugiava no quarto para ler, e, mais tarde, quando todos estivessem dormindo, para sonhar acordada. Era esse amor que recebia em sonhos que fazia a Alma caminhar sempre em frente, tentando não pensar na morte e ainda acreditando num futuro melhor...


*O nome Alma, assim como Vida, é fictício. Infelizmente, os fatos são reais.

Momentos...

MOMENTO I

Vida* entrou em casa super feliz. Estava trazendo dois livros da biblioteca e pretendia ainda os ler no final de semana. Como era bom ter 8 anos! Sem preocupações graves, os estudos indo super bem, amigos, passeios, presentes...Claro, nem tudo era perfeito...tinha os seus pontos negros. Mas o futuro ainda estava por vir e as esperanças brotavam a cada dia. Olhou sobre a mesa e viu a sua obrigação diária: papel de desenho caríssimo e giz de cera importados. O pai havia sismado que ela tinha o dom para desenhar e todos os dias Vida precisava fazer um desenho. Sentou-se de má vontade e rabiscou qualquer coisa, fazendo uma pintura bem colorida. Depois, trocou de roupa e deitou-se na cama com um dos livros. Algum tempo depois, o pai chegou...era o dia dele trabalhar à noite na Rádio. A mãe ia chegar mais tarde...Após entrar no quarto da filha e dar uma olhada nada satisfeita no desenho, o pai comunicou que a mãe iria sair com os amigos do trabalho e que iria voltar tarde. Vida não ficou nem um pouco chateada. Já estava acostumada à intensa vida social dos pais e não gostava de babás. Tinha medo sim, mas pretendia ler até a madrugada e assim, o medo diminuía. Foi aí que o pai disse que havia trocado a sua noite de trabalho com uma colega. O coração da Vida congelou...já sabia perfeitamente o que isso significava...Como moravam numa espécie de flat (prédio somente para os estrangeiros), havia um restaurante no térreo, onde a Vida adorava comer. O pai convidou-a para jantar no restaurante e também a ver um filme de Charles Chaplin que iria passar à noite. Apesar das promessas, o coração da Vida estava pesado. Após o jantar e o filme, veio o inevitável: ordem de deitar-se ao seu lado na cama e aceitar as carícias. Vida viajou na imaginação, para não sentir tanto. Logo adormeceu e, de madrugada foi acordada pelo pai, para voltar ao quarto, já que a mãe ia chegar...

* O nome foi trocado, mas a história é totalmente real...