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Nossas Histórias

ESSE BLOG É PARA CONTARMOS AS NOSSAS HISTÓRIAS, MOSTRAR A NOSSA LUTA E A NOSSA VITÓRIA...

terça-feira, 30 de julho de 2013

Segundo Depoimento / Bya Albuqueque

Tenho recebido várias propostas e pedidos para escrever um depoimento com o que aconteceu nesses anos, após eu dar o meu "grito" e deixar de ser uma filha do silêncio. Eu nunca fiz essa análise, mas realmente, ao mesmo tempo que é interessante fazer uma reflexão, dá medo só em pensar no sofrimento.
Sofrimento? Sim e muito. 
Acabei fechada num mundo virtual, com amigos (queridos), porém virtuais. Antes, eu já estava com fobia social, mas conseguia controla-la. Agora, ela está forte demais e mal saio de casa. A depressão continua e a baixa estima também. Piorou a insônia e o transtorno alimentar é fortíssimo. A solidão pesa demais...e o tabu e a incompreensão das pessoas continuam.
Quando resolvemos sair de Porto Velho, em vez de voltar para São Paulo, resolvi morar em Ribeirão Preto, cidade que adoro. Mas o meu marido mora e trabalha em São Paulo, fato que desestruturou a família. Por que não voltei para São Paulo? Talvez pela falta de solidariedade de muitos amigos e familiares, principalmente por parte do meu marido. Para eles era e é vergonhoso eu ter me aberto e manter a comunidade. Nunca, nenhum deles me procurou e perguntou como estou...se estou resolvendo a minha parte emocional...ou me estendeu a mão. Para uma vítima de abuso sexual isso é muito duro, pois as pessoas esquecem que você foi e é a VÍTIMA. Não que a família do meu pai seja diferente. Na verdade é muito pior, pois continuo sendo o segredo sujo da família e acobertam um psicopata que foi o meu pai. A história com a minha mãe e irmã é mais sórdida ainda: elas se recusam a acreditar. Sou mãe e sei o que é amor materno. Ele é incondicional. Esse amor sempre foi-me negado. O pior é a minha irmã, que não enxerga que ela é o que é hoje graças ao meu sacrifício. Não precisava agradecer, mas pelo menos reconhecer. Todos esquecem de um fato real e muito triste: o abuso sexual não escolhe a classe social...o nível intelectual...a crença religiosa. Somente quem passou por essa violência, entende bem do que estou falando. 
A Comunidade vai bem. Cresceu bastante e hoje, além dos dois blogs, tenho uma página, três perfis e três grupos no facebook. Sem falsa modéstia, sei o quanto consigo ajudar, mesmo que seja pouco. Faltava alguém para dar o primeiro passo para falar sobre o passado e muitos me seguiram. Não sem pagar o preço alto do sentimento de vergonha e impotência. Sem falar do preço alto que pago por me expor. Muitos fazem a prevenção contra pedofilia...poucos são os que estendem a mão às vítimas mais velhas. E muitos...muitos mesmo, que fecham os olhos para o problema ou se aproveitam politicamente falando. É uma lástima.
A grande maioria das pessoas acham que nós, os abusados, vivemos do passado. Pode até haver uma minoria...mas eu por exemplo não penso no abuso ou no meu pai, apesar de sonhar com ele todas as noites nas poucas horas que durmo. Todos dizem: sai dessa cama...sai dessa depressão. Esquecendo que depressão é uma doença SIM e que eu não resolvi viver reclusa.
Mas também muita coisa boa aconteceu. Conheci pessoas maravilhosas, das quais recebo afeto que até me deixa sem graça, pois não sinto-me merecedora de tanto carinho e confiança. Ou talvez tenha esquecido o que era isso, tamanha a violência emocional que vivi.
Pretendo continuar com o meu jeito de ser e ajudar. Não quero um site ou montar uma ONG. Não quero entrevistas, homenagens e nem vou aceitar entrar para a política, porque para mim mais importante que a multidão, é a pessoa em si. E a cada uma que consigo confortar, ao mesmo tempo também sou confortada. E isso basta-me...Não posso dizer que sou feliz ou realizada, mas com certeza digo que não fico parada e tento colaborar para um mundo melhor. Trabalho de formiguinha, mas sempre em frente. Infelizes daqueles que viram a cara e escondem as mãos, já que colhemos somente o que plantamos. E sabemos que falar no fim da violência sexual é uma utopia...seria o mesmo que falar do fim da corrupção...violência urbana...ou uso das drogas.
E assim que estou no momento: uma mulher de 46 anos, um tanto desiludida, porém feliz com a maturidade que chegou e feliz com o seu trabalho, mesmo sendo voluntário. Aprendi nesses anos que cada coisa que dá errada, é um aprendizado. Que cada pessoa que te decepciona ou sai da sua vida, também é um aprendizado. E quem sabe, daqui a alguns anos, posto outro depoimento, com esperanças mais elevadas e menos desilusão em relação às pessoas.
Bya Albuquerque...Ribeirão Preto...30 de julho de 2013.





segunda-feira, 15 de julho de 2013

TEXTO DA AMIGA ELZA AUGUSTA DE OLIVEIRA

As pessoas julgam as forças umas das outras baseando-se naquilo que elas mesmas são capazes de suportar. Poucos se dão conta que cada um de nós tem seu limite e que este não pode ser comparado com o de mais ninguém.
Uns suportam mais heroicamente o sofrimento, outros se entregam e morrem devagarinho como se o mundo tivesse acabado. E a um e a outro Deus criou.
Somos infinitamente mais capazes do que pensamos, mas enquanto ignoramos essa verdade, somos o que somos sem sermos mais ou menos que ninguém. 
Classificar alguém de fraco porque este não suporta a dor física, moral ou emocional é cometer uma grande injustiça, pois cada um vai até onde seus limites permitem e é devagarinho que as pessoas vão descobrindo que as asperezas da vida nos tornam pouco a pouco mais fortes e resistentes.
Seguimos até onde devemos seguir e quando cremos que as forças nos abandonam é que o Senhor nos pega nos braços e nos ensina a voar. Vemos então horizontes que não podíamos alcançar com nossa visão plana e direcionada geralmente àquilo que nos fazia tanto mal.
Somos o que somos sim e que ninguém nos diga pequenos e falhos! Alcançamos tudo o que está ao alcance das nossas mãos e o mais o Senhor nos dá através da nossa fé que, mesmo limitada, nos torna seres ilimitados.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

"A VIOLÊNCIA VEM DE ONDE MENOS SE ESPERA"

Não é só no Vaticano que a Igreja Católica vive às voltas com denúncias de escândalos sexuais. Em Niterói, a Polícia Civil vai indiciar um padre por estupro de vulnerável. Ele teria abusado de uma menina, hoje com 10 anos, quando ela ainda tinha 7 anos.
Mas não foi só: de acordo com depoimentos prestados na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Niterói, Emilson Soares Corrêa também manteve relações sexuais com outra menor, sua afilhada e irmã da outra vítima, desde quando ela tinha 13 anos. Emilson, de 56 anos, era o responsável pela paróquia da Igreja Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, no bairro do Cubango. Uma das vítimas era coroinha da igreja e foi batizada, aos 13 anos, pelo padre, que também foi o padrinho de batismo. A partir do batizado, "O padre passou a aliciá-la e tocá-la em suas partes íntimas em troca de presentes como sorvetes, chocolates e passeios", conforme relatou a vítima, hoje com 19 anos, à polícia. A reportagem teve acesso a um vídeo, feito pela vítima, que mostra Emilson fazendo sexo com uma adolescente em plena casa paroquial. Segundo a vítima, que armou a situação para denunciar o padre, a garota teria 15 anos. A denúncia foi levada à delegacia pelo pai das meninas. Segundo ele, foi sua ex-mulher que flagrou a filha mais velha discutindo com o padre. Na ocasião, ela revelou à mãe que se relacionava sexualmente com o padrinho. - Quando soube que minha filha mais velha estava sendo abusada, perguntei à mais nova se havia ocorrido algo com ela. Ela disse que durante um passeio a um sítio, quando tinha sete anos, o padre tocou em sua partes íntimas - contou ele. Envolvimento emocional Em petição enviada à delegacia, Emilson confessa ter mantido relações sexuais com a mais velha das duas irmãs, mas só a partir de quando ela completou 18 anos. Segundo o texto, ele "se sentiu envolvido emocionalmente" com a menina. A delegada Marta Dominguez, que abriu o inquérito, explica que a denúncia só leva em consideração o estupro da irmã mais nova. Segundo ela, o caso da outra menina não se enquadra no crime: a vítima já tem mais de 14 anos, e não ficou provado que houve ameaça. Sacerdote é suspenso pela Arquidiocese Diante da denúncia, a Arquidiocese de Niterói informa que decidiu pela "suspensão temporária do sacerdote". Atualmente, o padre não é responsável por nenhuma paróquia. O órgão também alegou, em nota, que a acusação está sendo investigada e que "o próprio sacerdote levou a denúncia ao conhecimento do Ministério Público, para que apure a veracidade ou não da mesma". A delegada Marta Dominguez disse que só aguarda um depoimento do pai das vítimas para encerrar o inquérito. O padre foi procurado em quatro números de telefone - inclusive aqueles citados em seu depoimento - mas não foi encontrado. ‘Pode haver estupro, mesmo sem sexo’, diz delegada Marta Dominguez Qual denúncia será oferecida ao Ministério Público? Ainda falta fechar o inquérito. Quero ouvir o pai das vítimas mais uma vez. Mas, em relação à irmã mais nova, houve estupro de vulnerável. No caso da mais velha, não é possível enquadrá-lo no crime. Por quê? Não há nenhuma prova que o padre tenha ameaçado ou violentado ela. Sem contar que ela afirma, em depoimento, ter filmado o padre fazendo sexo com ela quando já tinha mais de 18 anos. O padre compareceu à delegacia para depôr? Ele não depôs, mas no dia 12 de dezembro enviou uma petição confessando que havia feito sexo com a irmã mais velha, mas só quando ela já era maior, depois de 2012. Ele pode ter feito sexo com a irmã mais nova? Ela fez exame de corpo de delito e, no resultado, comprovou-se que ela ainda é virgem. Mas o relato da menina, em que ela afirma que o padre tocou em suas partes íntimas, já basta para a concretização do crime. O flagrante O pai das vítimas, em depoimento, diz que armou com a filha o flagrante do padre: ele afirma que "determinou que sua filha mantivesse relação sexual com o acusado e filmasse com o telefone celular". A filmagem No vídeo, filmado pela vítima, já com 19 anos, uma menina faz sexo com o padre na casa paroquial, nos fundos da igreja. Ao fundo, é possível ver uma reprodução da Santa Ceia. Segundo o denunciante, a menina que aparece no vídeo teria 15 anos. A confissão O pai das duas vítimas afirmou, em depoimento, que, no dia 22 de novembro do ano passado, chamou o padre em sua casa e, exigindo explicações, mostrou o vídeo. Ele relata que, na ocasião, o padre pediu perdão. Na Arquidiocese Em seu depoimento à polícia, o pai das vítimas também conta que levou o vídeo ao arcebispo de Niterói, Dom José Francisco Rezende Dias para que fossem tomadas providências em relação ao caso. Segundo o relato, o arcebispo estava acompanhado de dois advogados na ocasião. No final do diálogo, na saída da Arquidiocese, o pai afirma que "percebeu que estava sendo seguido por dois homens que se encontravam no local". No Vaticano Segundo o jornal italiano "La Repubblica", o Papa Bento XVI, que já anunciou sua renúncia para o mês de março, teria decido deixar a Igreja depois de receber um dossiê de mais de 300 páginas com detalhes de práticas de corrupção, promiscuidade e o mapeamento de uma rede de prostituição homossexual dentro do Vaticano. VatiLeaks Em janeiro de 2012, partes do documento já haviam sido roubados no episódio conhecido como VatiLeaks. A expressão é uma comparação com o fenômeno Wikileaks. 

http://extra.globo.com/casos-de-policia/padre-emilson-acusado-de-estupro-vai-responder-por-atentado-violento-ao-pudor-8416438.html

terça-feira, 2 de julho de 2013

RELATO DE UMA VÍTIMA DE ABUSO SEXUAL DOMÉSTICO / Maria, 35 anos, empresária – Recife-PE

...Não sei ao certo quando começou, aliais fiz questão de esquecer.
Tinha mais ou menos 10 anos de idade. Era de manhã quando brincava pela casa, subi no 1º andar, meu irmão (nove anos mais velho   estava deitado em uma cama de campanha, me chamou e pediu para que eu tirar (espremer) espinhas que ele tinha nas costas.  Ele estava de, short, sem camisa, espremi 02 ou 03 espinhas meio sem jeito e ele me pediu para fazer o mesmo em mim. Disse-lhe que não tinha e ele me pediu para ver, insistindo. Eu permiti. Percebi que ele desceu a mão e alisou por  entre as minhas pernas de maneira rápida. Eu me assustei e aproveitei algumas pessoas falando e corri enquanto ele dizia: “Peraí, peraí, vem cá!”. Desci os degraus mais que depressa quando cheguei em baixo, minha irmã (seis anos mais velha) foi entrando em casa e eu resolvi que ia contar tudo a Ela. Não consegui, as pernas tremeram, esbarrei em minha timidez, fiquei com medo de que achasse que eu o tinha provocado.  TIVE  MEDO! Ai começou meu inferno que dura até hoje.
Em 1972, após 21 anos de casamento e 9 filhos meus pais se separaram, sou a oitava. Três (03) ou quatro (04) anos depois passei a trabalhar para ajudar minha mãe. Ela dizia que os filhos eram o maior transtorno da vida dela. Tenho certeza até hoje de carregar um complexo de culpa muito grande, junto com o de rejeição. Naquela época eu muitas vezes trabalhava sozinha em cima de um banco para poder ficar maior e atender melhor os clientes. Minha vida era da escola para loja e da loja para casa almoçava muitas vezes dentro da loja como lá também fazia os meus deveres, de casa. Não tinha brinquedos, não me permitiam ter amigos ou colegas, pois poderiam me colocar contra minha mãe, senhora absoluta e ditadora de normas e regras. Meu único divertimento quando ela me deixava era assistir TV. Minha mãe inventou de estudar à noite para encobrir seu comportamento pornográfico para uma Empresária, mãe de 09 filhos que muitas vezes varava a noite em boates de quinta categoria - e eu a via chegando as 5:30hs. da manhã, na hora que eu estava indo para missa levar minha tia que morava conosco.
Minha vida tornou-se um inferno quando meu irmão então envolveu-se com roubo de toca-fitas e arruaças em um Estado vizinho, ele foi preso, não sei quanto tempo ele passou. Acho que não chegou há 01 mês, ele voltou e começou a me perseguir à noite, quando as pessoas dormiam. Ele vinha se chegando, começava a pegar nos meus peitos, passava a mão em minha bunda, introduzindo o dedo em meu ânus fazendo eu masturba-lo.  Em seguida ele se trancava no banheiro e lá passava horas, com umas revistas  de sacanagens.  
0 meu relacionamento com minha mãe era um abismo. Ela queria a liberdade e os filhos eram naturalmente um empecilho ao processo que ela queria vivenciar. Nunca recebi nem uma forma de carinho dela,  e não a perdôo pelo "presente de grego" que ela me proporcionou, para que sobrasse dinheiro para suas “putarias", farras e para gastar "com bebidas e homens. Ela permitiu que o verme do meu irmão dormisse em minha cama.
Desejei tantas vezes morrer. Não sabia como se engravidava, as vezes achava que estava grávida só por ele colocar o dedo em meu ânus. Bloqueei todos os tipos de reação ou sensação que isso pudesse causar. Me sentia suja, imunda, nojenta, achava que só ao olhar para mim as pessoas iriam descobrir. Entristeci-me para vida, para o mundo. Minha Mãe ocupada demais para qualquer coisa inclusive para se dar conta que meu irmão era um pervertido e na calada da noite até mesmo com ela dormindo na cama ao lado ele me molestava.
Em uma das noites malditas, esse pervertido foi mais além: introduziu seu pênis em meu ânus, aumentando mais ainda minha re- pulsa, minha revolta e o nojo que sentia de mim mesma.
Durante todo o tempo que isso aconteceu não existia diálogo, ele simplesmente atacava-me nas portas da geladeira, do banheiro ou vendo TV e o mais cruel era saber que na cama ao lado dormia minha mãe, que ela consentia ele dormir  comigo em uma cama de solteiro.
Tentei inúmeras vezes criar coragem para falar pois sempre tive a certeza que minha mãe não iria acreditar. Estava certa.
Quando eu tinha  19 anos ela soube e disse: “Não acredito que houve isso e se houve foi culpa sua”.  
Um certo dia houve um surto de doença venérea entre meus irmãos e foi assim que eu mesma passei toda vez que ele chegava eu repetia continuadamente: doença venérea, doença venérea, doença venérea... até ele sair de junto de mim. Parece que isso lhe dava medo e ele só respondia: “Cala boca, não fale isso, eles vão descobrir. "
Sinto-me hoje melhor de poder dividir em palavras escritas, como foi que tudo aconteceu, sabendo que este fato pode ajudar outras pessoas a se livrarem, se libertarem do abuso sexual.
Eu queria ter sido uma criança, uma adolescente e uma adulta normal, sem precisar ter passado por isso. Estou recomeçando a minha terapia, pois tornei-me uma pessoa agressiva e incrivelmente defensiva ao- ponto de dificultar minhas relações sociais e amo- rosas. Minha maior revolta e ver que até hoje passados 25 anos minha mãe continua acolhendo-o  e ele continua aliciando menores, meninos e meninas com menos de 10 anos de idade, que como eu cedem por medo ou sei lá o que, e  satisfazem os prazeres sórdidos de um aliciador profissional.